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Soldados da Ucrânia amputados voltam à guerra – 12/04/2024 – Mundo

A perna do comandante ucraniano Odin, 32, foi arrancada na explosão de uma mina terrestre no ano passado. Agora, ele está de volta às trincheiras para defender a Ucrânia diante do avanço da Rússia.

“Tive ofertas para voltar à minha academia local como professor ou para trabalhar em um escritório de recrutamento em OdesSa”, disse à Reuters o homem da 28ª Brigada Mecanizada Separada, em um bunker apertado na linha de frente na região leste de Donetsk. “Eu disse que não estou interessado nessas posições”.

O exército exaurido e esgotado da Ucrânia precisa de toda a ajuda possível. Ele está sendo repelido por seu inimigo muito maior e mais poderoso em torno da cidade de Avdiivka, no leste do país, e está sob crescente pressão em outras seções da frente.

Mango, um artilheiro de tanque de 28 anos, teve sua mão destruída por estilhaços em 2022 durante os combates em Mariupol, antes de ser capturado pelos russos. Ele também retornou à frente de batalha, como chefe de logística de um batalhão do Batalhão Azov.

“Quando voltei do cativeiro, percebi que a guerra ainda não havia terminado”, disse Mango, que usa um codinome por motivos de segurança, assim como Odin e a maioria dos soldados ucranianos. “Mesmo que eu não possa me sentar em um tanque, ainda posso ser útil. Ainda posso lutar um pouco.”

Os dois soldados estão entre os milhares de militares ucranianos que perderam membros desde que a Rússia lançou uma invasão em grande escala no início de 2022. Embora o governo de Kiev tenha se recusado a compartilhar dados sobre as baixas, a Princip, uma importante organização de direitos humanos que representa militares, calculou entre 20 mil e 50 mil o número de amputados da guerra.

Os campos de batalha estão repletos de minas, enquanto a artilharia e os ataques de drones são uma ameaça constante, o que significa que o número de amputados aumenta constantemente.

A Reuters entrevistou 20 militares amputados, sete dos quais haviam retornado ao Exército ou que tinham essa intenção. Para muitos dos que podem fazê-lo, o desejo de apoiar seus companheiros sitiados no campo de batalha continua forte.

Masi Naiiem, cofundador da Princip, disse que é comum ver soldados com membros artificiais ainda servindo. A natureza da função de cada um, nesse caso, geralmente é decidida pela extensão dos ferimentos, disse Naiiem, que perdeu um olho em combate em junho de 2022. Soldados com amputações abaixo do joelho, por exemplo, são considerados aptos a servir em unidades de apoio, mas não para funções altamente móveis ou especializadas, de acordo com o Princip.

Tony Bloomfield, diretor de operações da Blesma, instituição de caridade militar britânica para veteranos sem membros, diz que é extremamente raro que soldados que perderam um membro retornem ao conflito. Mas tem acontecido na Ucrânia.

“Alguns dos ucranianos que conhecemos querem, sem dúvida, voltar e lutar se puderem”, disse. “A diferença aqui, novamente, para a Ucrânia, é que se você deixar o Exército, seu país ainda estará em guerra. E você ainda corre o risco de se ferir.”

‘Minha mão não estava lá’

Kiev está desesperada para repor suas fileiras. Os soldados dizem que estão em menor número e com menos armas ao longo da linha de frente no leste e no sul da Ucrânia. Durante o ataque de Moscou a Avdiivka, que durou meses, tropas ucranianas disseram que estavam em desvantagem numérica de cerca de sete para um.

O presidente Volodimir Zelenski assinou um projeto de lei para reduzir a idade de alistamento de 27 para 25 anos. O Parlamento ucraniano aprovou nesta quinta-feira (11) uma legislação para com o objetivo de alistar milhares de soldados a mais.

Tanto Odin quanto Mango —soldados de carreira que estavam nas Forças Armadas antes da invasão russa— expressaram um sentimento de responsabilidade pelos combatentes que deixaram para trás nas trincheiras. Ainda sentem “culpa” por terem sobrevivido aos ferimentos e poderem viver em relativa segurança longe dos combates.

Odin não hesitou em pedir permissão aos superiores para voltar ao combate depois de passar por uma cirurgia e reabilitação com um membro protético.

Em sua posição em Donetsk, Odin se move livremente para cima e para baixo nas trincheiras, falando com membros de sua unidade. Mas ele ainda tem medo de acionar outra mina novamente durante o combate contra as forças russas.

“Apesar de alguns dizerem que tudo estava ruim e que continuar uma vida normal era impossível, estou vivendo uma vida plena”, disse ele mais tarde, empoleirado em uma cama no bunker e levantando uma perna da calça para revelar seu membro protético.

“Eu queria verificar meu relógio para ver que horas eram”, relembrou Mango sobre o dia do ferimento. “Levantei minha mão e vi que meu relógio não estava mais lá. Minha mão estava completamente destruída, com ossos para fora e tudo mais.”

Não foi fácil convencer os oficiais superiores de que ele ainda tinha um papel militar a desempenhar. Mango disse que teve de pedir a seu comandante que enviasse um relatório às autoridades confirmando que havia um cargo adequado para ele.

“Em todos os exames médicos, sempre havia um cirurgião que perguntava se eu havia reconsiderado minha decisão. Todas as vezes eu dizia ‘não'”, contou Mango, que espera ganhar uma mão biônica para poder usar dedos artificiais.

Próteses avançadas

Segundo os amputados entrevistados, aqueles que não retornam às Forças Armadas acham a transição para a vida civil ainda mais difícil.

Deixar o Exército significa enfrentar um novo conjunto de desafios, desde se locomover em uma cidade ou apartamento até encontrar um emprego, bem como lidar com civis que nem sempre sabem como agir quando entram em contato com amputados.

O governo fornece próteses de alta qualidade para aqueles que perdem membros em combate, bem como tratamento de reabilitação. Os amputados de guerra também recebem pagamentos que variam de acordo com a gravidade dos ferimentos. Há dinheiro disponível para a manutenção de membros artificiais e as pessoas podem arrecadar fundos de forma privada ou por meio de instituições de caridade para próteses avançadas, como mãos biônicas.

Naiiem, do grupo de direitos dos soldados Princip, disse que o governo não estava fazendo o suficiente para apoiar os amputados na busca de emprego e que as iniciativas que existiam estavam concentradas nas grandes cidades.

“Quero dizer, o Estado priorizou o envio de pessoas para a morte, mas não priorizou a ajuda na recuperação quando elas se feriram”, disse ele. “Todos os feridos sentem isso.”

Ele acrescentou que o número de pessoas afetadas por amputações, direta ou indiretamente, só aumentaria à medida que a guerra continuasse sem fim à vista.

O Ministério de Assuntos de Veteranos da Ucrânia não respondeu quando questionado sobre as críticas de que não estava fazendo o suficiente para apoiar os amputados, especialmente a longo prazo.

Oleksandr Revtiukh perdeu o braço esquerdo e a maior parte da perna esquerda em várias explosões de minas enquanto lutava contra as forças russas durante a contraofensiva do verão passado no sul, tornando praticamente impossível o retorno ao combate.

Embora os traumas da guerra permaneçam, o homem de 33 anos está se concentrando em seu futuro fora das Forças Armadas. O ex-técnico em eletrônica, que se alistou para lutar meses após a invasão russa de fevereiro de 2022, quer criar um perfil de mídia social como treinador de boxe motivacional para outros amputados.

“Não tenha medo de cometer erros”, disse ele. “Procurem uma saída, há um caminho entre os espinhos e as estrelas. Esse é o meu lema.”

Fonte: Folha de São Paulo

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