Gaza já foi invadida e destruída várias vezes ao longo de seus mais de 4.000 anos de história. Mas nada se compara à devastação registrada nos últimos seis meses em decorrência da guerra deflagrada por Israel após os atentados terroristas do Hamas em 7 de outubro.
Mapas elaborados com base em imagens de satélite analisadas pelas Nações Unidas mostram que mais de 88 mil edificações –cifra equivalente a cerca de 35% das construções da Faixa de Gaza— foram destruídas ou danificadas no território palestino no período.
O cenário é mais desolador na Cidade de Gaza, maior cidade do território, ao norte, e em Khan Yunis, no sul, alvo de grandes incursões por terra do Exército israelense. O local mais poupado até agora é Rafah, cidade no extremo sul que abriga mais de 1 milhão de deslocados internos e que se vê diante de uma invasão iminente planejada por Tel Aviv.
Os locais atingidos incluem prédios residenciais, hospitais, mesquitas, igrejas, escolas, universidades, sítios arqueológicos, campos de refugiados e sedes de veículos de imprensa.
Procurada pela reportagem, a Embaixada de Israel no Brasil diz que o país direciona seus ataques apenas contra objetivos militares do Hamas e de outros grupos terroristas em Gaza, e não contra a população civil.
“O Hamas construiu uma extensa rede de túneis subterrâneos por toda a Faixa de Gaza, com pontos de acesso localizados em casas, mesquitas, escolas e até hospitais, levando os combates (e o dano resultante) para o coração dos arredores civis”, afirma a representação diplomática, em comunicado.
Parte da destruição em Gaza é provocada por bombas lançadas por aviões e drones da Força Aérea israelense sobre áreas densamente povoadas. De acordo com investigações do New York Times e da CNN, foram utilizadas em centenas de ocasiões munições de 1 tonelada, capazes de matar ou ferir pessoas a mais de 300 metros de distância do alvo.
Disparos de tanques e navios de guerra também vêm danificando construções no território. Vídeos gravados por soldados israelenses e divulgados nas redes sociais mostram demolições feitas com retroescavadeiras e dinamites. A Embaixada de Israel foi questionada especificamente sobre essas práticas, mas anota enviada não aborda esse assunto.
A destruição se soma a um cerco total anunciado nos primeiros dias do conflito, com bloqueios à entrada de comida, água, combustível e materiais de construção, além cortes de eletricidade e telecomunicações. Esse é um dos elementos que embasam a acusação de que Israel estaria promovendo um genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza, segundo denúncia apresentada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça no fim de dezembro.
Na quinta-feira (4), Israel anunciou a abertura de novas passagens para entrega de ajuda humanitária. A nota da embaixada de Israel também diz que o país adotou esforços para facilitar o tratamento médico de civis feridos e o estabelecimento de hospitais de campanha.
No que diz respeito ao direito internacional humanitário, a representação diplomática afirma que “não se pode concluir, pelo mero fato de que ‘civis’ ou ‘objetos civis’ aparentes foram alvejados, que um ataque foi ilegal”.
“Os esforços de Israel nesse sentido estão em conformidade com suas obrigações legais, bem como uma expressão de seus valores e compromisso com a humanidade. No entanto, deve-se apreciar que a principal ameaça aos civis de Gaza é que eles vivem sob o domínio de uma organização terrorista genocida, o Hamas, que despreza tanto a lei quanto a vida humana. Enquanto esse domínio persistir, tanto israelenses quanto palestinos estarão em perigo”, diz o comunicado.
Mais de 1,7 milhão de palestinos (cerca de três quartos da população de 2,3 milhões antes da guerra) deixaram suas casas desde o início da guerra, de acordo com a UNRWA, a agência das Nações Unidas para refugiados palestinos.
Segundo relatos de moradores da Faixa de Gaza, soldados israelenses vêm impedindo que deslocados internos retornem às suas casas no norte do território –ou ao que tenha sobrado delas.
A Embaixada de Israel afirma que as Forças Armadas do país recorrem a ligações telefônicas, mensagens de texto e panfletos escritos em árabe para incentivar civis a se retirarem temporariamente de áreas de intensas hostilidades. “Esse mecanismo tem se mostrado eficaz nos conflitos atuais e tem salvado muitas vidas”, diz o comunicado.
Ao menos 33.091 pessoas morreram no território palestino nos últimos seis meses, dos quais cerca de 70% são mulheres e crianças, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas. Há ainda cerca de 7.000 desaparecidos, que se supõe estarem mortos sob os escombros. Outras 75.750 pessoas ficaram feridas.
Do lado israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram e 5.400 ficaram feridas nos ataques terroristas de 7 de outubro, segundo as autoridades de Tel Aviv. Desde então, ao menos 252 soldados israelenses morreram, e 1.523 ficaram feridos em combates na Faixa de Gaza.
Das cerca de 240 pessoas sequestradas pelo Hamas naquele dia, estima-se que 134 permaneçam no território palestino —as demais foram libertadas em trocas de prisioneiros durante uma trégua de sete dias no fim de novembro.