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Biden tenta alcançar geração Z pelo TikTok e vê críticas – 01/04/2024 – Mundo

A campanha do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, trabalha para preencher uma lacuna geracional com dezenas de milhões de eleitores mais jovens no TikTok, rede social na qual os desafios são desanimadores e os ganhos, difíceis de monitorar.

Os obstáculos vão desde a raiva gerada pelo apoio à Israel na guerra na Faixa de Gaza até o que os especialistas em mídias sociais descrevem como o fato de que apoiar o governo é, inevitavelmente, algo não muito bem visto entre os jovens.

Biden, 81, entrou no aplicativo chinês no mês passado, em um esforço para se comunicar com eleitores com menos de 30 anos, entre os quais tem sido mal avaliado há meses. Em entrevistas e pesquisas, essa parcela do eleitorado indicou desconhecimento sobre os feitos de sua gestão, algo que uma campanha no TikTok a princípio poderia aliviar.

Navegar na plataforma com mais de 150 milhões de usuários nos EUA envolveu confrontar, geralmente nos comentários de suas próprias postagens, alguns dos problemas mais espinhosos que afligem a tentativa de reeleição de Biden —eleitores desiludidos com a política em geral; preocupações com sua idade; e a indignação com o número de mortos em Gaza.

O ex-presidente Donald Trump não está no aplicativo, mas seus apoiadores são ativos por lá.

Para piorar, a equipe de comunicação de Biden está tentando vender as benfeitorias do mandato em uma rede social que o próprio presidente disse representar uma ameaça à segurança nacional.

O projeto de lei que quer forçar o TikTok a cortar laços com sua proprietária chinesa, a ByteDance, para não ser banido nos EUA está parado no Senado, mas o presidente disse que o sancionará se for aprovado —uma posição que irritou até seus mais fervorosos jovens apoiadores.

“O TikTok tanto impulsiona quanto, em última análise, reflete a cultura. Este é obviamente um momento em que os jovens estão se sentindo insatisfeitos com o mundo que herdaram, não apaixonados pelas instituições de poder que os decepcionaram”, disse Teddy Goff, estrategista digital democrata.

“Eu acho que o presidente Biden realmente tem um histórico incrível, mas torcer para os caras que já estão no comando não é exatamente a mensagem que um grupo de jovens de 19 anos quer passar.”

Desde a última eleição presidencial, o aplicativo de compartilhamento de vídeos explodiu, tornando-se uma fonte dominante de notícias e discursos políticos usada por 56% dos adultos dos EUA entre 18 e 34 anos. Desde que entrou no TikTok, em fevereiro, a campanha de Biden postou dezenas de vídeos para menos de 300 mil seguidores acumulados pelo presidente.

Alguns dos vídeos mostram Biden em comércios locais respondendo a perguntas sobre o Super Bowl, enquanto outros apresentam anúncios de campanha e trechos de seu discurso do Estado da União. Em um esforço para reconquistar eleitores galvanizados por Donald Trump em 2020, muitas postagens se concentram no ex-presidente. Um vídeo destacando os planos de Trump para um segundo mandato está entre os mais vistos.

Os usuários frequentemente fazem comentários sarcásticos nas postagens. Após a campanha postar um vídeo de Biden criticando Trump, dizendo: “Ele só acabará com a Previdência sobre o meu cadáver”, alguns usuários responderam com vídeos que chamavam a atenção para a idade do presidente e que acabaram recebendo mais visualizações do que o original.

A campanha de Biden tentou usar o TikTok para abordar essas preocupações maiores dos eleitores. Em um vídeo, o presidente faz uma piada sobre a audiência do programa de Jimmy Fallon depois que o apresentador zombou da idade de Biden. Os vídeos e comentários depreciativos são algo que a campanha vê como normal ao interagir em qualquer plataforma de mídia social.

“Vemos o TikTok como uma das muitas ferramentas para alcançar eleitores em um ambiente de mídia cada vez mais fragmentado”, disse Lauren Hitt, porta-voz de Biden. “Graças à captação de recursos de base recorde, estamos alcançando os eleitores onde eles estão e em todas as plataformas, do TikTok e o Instagram a anúncios de TV e a porta das casas dos americanos.”

Assim como a Casa Branca se associou a influenciadores de redes sociais, a campanha de Biden planeja usar criadores do TikTok para promover sua imagem. Mas a atividade política é desencorajada na plataforma em comparação com outras redes sociais: as diretrizes da comunidade não permitem publicidade política paga, e os usuários são proibidos de “receber pagamento para criar conteúdo político”.

O que poderia repercutir para Biden é uma outra questão em aberto. Em janeiro, o TikTok restringiu o acesso a uma ferramenta que mede a popularidade das hashtags, o que torna mais difícil rastrear o desempenho do conteúdo postado na plataforma.

Joan Donovan, pesquisadora de desinformação que estuda o TikTok, disse que pode ser difícil para a campanha alcançar públicos não engajados sem facilitar um relacionamento com os espectadores em uma plataforma que recompensa a autenticidade.

Alguns democratas mais jovens, como a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, e o deputado Jeff Jackson, da Carolina do Norte, ganharam números consideráveis de seguidores no TikTok explicando política de uma forma didática e informal.

As campanhas do senador John Fetterman, da Pensilvânia, em 2022 e do senador Jon Ossoff, da Geórgia, em 2020, rostos novos na época, foram bem-sucedidas ao se aproveitarem de tendências do TikTok para alcançar potenciais eleitores.

Muitos jovens que usam o aplicativo têm ficado particularmente chateados com o que veem como uma cumplicidade americana nos ataques de Israel em Gaza. Imagens e vídeos de guerra proliferam no aplicativo, assim como postagens estimulando as pessoas a não votarem em Biden em 2024 como forma de puni-lo pelo apoio a Israel, sem dar importância ao esforço de seu governo por um acordo de cessar-fogo bilateral e mais ajuda para Gaza.

Usuários pró-Palestina inundam as postagens de sua campanha com comentários referentes aos palestinos e a Rafah, a cidade no sul de Gaza onde mais de 1 milhão de pessoas se abrigam.

“Biden reconhece o poder que o TikTok tem para influenciar os jovens eleitores. Mas ele e a campanha parecem não entender que apelar para os mais novos tem que vir com uma mudança de política em relação a Gaza e a várias questões”, disse Aidan Kohn-Murphy, o fundador de 20 anos do “Gen Z for Change” (geração z pela mudança), um grupo de criadores de conteúdo para o TikTok sem fins lucrativos. “Você não vai reconquistar os jovens eleitores postando um meme.”

Influenciadores do TikTok que apoiam Biden, como Harry Sisson, 21, um estudante que postou vídeos elogiando o presidente, tentaram preencher o vazio. “Quando Donald Trump vencer e destruir os EUA porque todas essas pessoas decidiram se abster, não reclamem”, disse ele em um vídeo de novembro, rebatendo postagens que instavam as pessoas a não apoiarem Biden.

Em resposta, Sisson recebeu uma enxurrada de comentários negativos e vídeos o atacando, algo que ele disse acontecer frequentemente quando defende o presidente.

Onde até mesmo Sisson difere do presidente é no esforço bipartidário do Congresso para forçar a venda do aplicativo ou bani-lo, o que ele considera “muito ruim” para os democratas. A Casa Branca recentemente fez lobby de forma privada com agências de talentos que representam criadores do TikTok para enfatizar um pedido por desvinculação.

Trump, por sua vez, recuou de esforços anteriores para banir o aplicativo e disse que não apoiava a legislação nesse sentido.

Ainda há de se descobrir se influenciadores podem ajudar Biden em um ambiente politicamente tenso. Emily Koh, criadora que recentemente se associou a um grupo que promove causas progressistas, disse em entrevista apoiar os democratas e que pretende ser mais ativa politicamente, mas que ficou desapontada com as posições de Biden sobre a legislação do TikTok e a guerra entre Israel e o Hamas.

Koh disse que Biden e seus aliados “têm que fazer duas coisas: estarem dispostos a trabalhar com esse novo tipo de mídia, e também realmente fazer as coisas que nós, como eleitores, estamos pedindo”.

“Mesmo que haja pessoas que possam criar um conteúdo ótimo, não é como se elas pudessem apagar o que está acontecendo”, disse ela.

Fonte: Folha de São Paulo

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