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EUA mudam censo para incluir nova identificação racial – 31/03/2024 – Mundo

O governo Joe Biden ordenou mudanças em uma série de pesquisas federais para reunir informações mais detalhadas sobre a composição étnica e racial dos Estados Unidos.

As mudanças —as primeiras em décadas nas perguntas padronizadas que o governo faz sobre raça e etnia— produziriam de longe o retrato mais detalhado da paleta ancestral dos EUA já compilado. E uma nova opção estará disponível, pela primeira vez, permitindo que os entrevistados se identifiquem como parte de uma nova categoria, assinalando a ascendência do Oriente Médio ou do Norte Africano.

Mas as mudanças também têm o potencial de incomodar conservadores que acreditam que o foco da nação em termos de diversidade já foi longe demais.

As revisões, divulgadas após 21 meses de estudo, aplicam-se não apenas ao Census Bureau, equivalente americano ao IBGE, mas a todo o governo, como em formulário para solicitação de cartões do Seguro Social. Elas entraram em vigor em 28 de março, mas as agências federais terão anos para implementá-las.

As pesquisas atuais incluem uma opção separada para pessoas de ascendência étnica hispânica e latina reivindicarem essa identidade, seguida por outra pergunta que oferece várias opções para que os entrevistados possam selecionar uma ou mais raças. As mudanças consolidam essas perguntas para que os entrevistados possam selecionar qualquer uma ou todas as sete categorias raciais e étnicas com as quais se identificam.

O Census Bureau estima que cerca de 3,5 milhões de pessoas se enquadrem na categoria de ascendência do Oriente Médio ou do Norte Africano. Nas regras atuais, essas classificações são consideradas brancas, mas muitos não se veem dessa forma, como apontou uma pesquisa informal do The New York Times com cerca de 5.300 americanos com essa ascendência no mês passado.

Mesmo depois de selecionar identidades raciais e étnicas, os entrevistados poderão mergulhar profundamente em suas próprias origens, escolhendo quantas subcategorias desejarem de nacionalidades diversas, como alemã ou libanesa. Pessoas que acharem insuficientes as categorias ofertadas poderão escrever ainda outras nacionalidades ou etnias.

Os censos dos EUA coletam informações pessoais desde de 1790, mas em 1977 as pesquisas começaram a rastrear características básicas de raça e etnia, originalmente para ajudar no cumprimento de leis de direitos civis e de voto da década de 60. Exceto por uma modificação em 1997, as perguntas permaneceram praticamente inalteradas até agora.

Autoridades do Escritório de Orçamento e Gestão, que supervisionaram a revisão, disseram que as mudanças eram necessárias em parte para tornar o levantamento mais preciso. Também é esperado que as mudanças permitam que especialistas meçam melhor como várias populações se beneficiam de programas e serviços federais em áreas como emprego, saúde e educação.

As novas perguntas se baseiam em parte no censo de 2020, que deu aos entrevistados brancos e afro-americanos a opção, pela primeira vez, de escreverem informações adicionais de ascendência. Para surpresa dos especialistas, o número de entrevistados que escolheram mais de uma identificação racial ficou atrás apenas do número dos que se identificaram como brancos.

“Nosso mundo mudou tremendamente em relação a questões raciais e étnicas”, disse o demógrafo Rogelio Sáenz, da Universidade do Texas em San Antonio. “E ao mesmo tempo, nossas metodologias, nossos instrumentos permaneceram bastante estáveis.”

Outros dizem, no entanto, que a classificação étnico-racial cada vez mais detalhada só fragmentará ainda mais uma nação profundamente dividida.

“A classificação das pessoas de acordo com um padrão completamente arbitrário apenas cria ansiedade, animosidade e divisão”, afirmou um dos mais de 20 mil comentários públicos sobre o projeto de revisão das categorias. “Isso divide o povo e a nação. É hora de pará-la, em vez de expandi-la ainda mais.”

As mudanças dificilmente vêm de repente. Especialistas as estudam desde meados da última década, e além dos milhares de comentários públicos, o Escritório de Orçamento e Gestão consultou outras 35 agências federais e uma série de sociólogos e demógrafos para obter conselhos.

Aqueles que apoiam amplamente as novas perguntas —acadêmicos, defensores das liberdades civis e grupos de interesse racial e étnico— disseram que elas promoveriam mais justiça em setores como educação, moradia, mercado de trabalho e outros aspectos da sociedade onde os dados do censo são usados.

Os árabe-americanos, em particular, têm feito lobby há anos para serem reconhecidos em pesquisas federais e têm pressionado fortemente pela adoção da nova classificação para pessoas com origem no Oriente Médio e no Norte da África. Entre outras coisas, os defensores dizem que os dados da nova categoria ajudariam no combate a crimes de ódio e violações dos direitos civis contra árabe-americanos.

“Sabemos que esses grupos sofrem supressão de eleitores, policiamento discriminatório, acesso desigual a programas e serviços do governo”, escreveu um apoiador da nova categoria em um comentário público no ano passado. “Mas eles não podem contar essas histórias porque esses grupos são considerados ‘brancos’ [no método atual de classificação].”

No entanto, os críticos observam que a categoria proposta para residentes do Oriente Médio e Norte da África não é uma construção étnica ou racial, mas geográfica, que inclui nações não árabes como Israel e Irã, e ancestralidades como a curda.

“Estamos criando uma categoria para MENA [sigla em inglês para Oriente Médio e Norte da África] e transformando os hispânicos efetivamente em uma raça”, disse Mike Gonzalez, membro sênior da conservadora Heritage Foundation, em entrevista. “Estamos criando categorias para a promoção de queixas. Precisamos de menos disso nos Estados Unidos, não de mais.”

Um indicador da política conturbada em torno das perguntas da pesquisa: A administração Obama considerou uma proposta em 2016 que era semelhante à aprovada nesta semana, apenas para vê-la morrer rapidamente em 2017, depois que Donald Trump assumiu a Casa Branca. Gonzalez, autor de um livro sobre política de identidade, foi um dos líderes de uma campanha conservadora contra a proposta.

Fonte: Folha de São Paulo

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