O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe na manhã desta quinta-feira (28) o presidente da França, Emmanuel Macron, no Palácio do Planalto.
A visita à capital federal encerra uma viagem de três dias do francês pelo Brasil. Ele foi a Belém (PA), Itaguaí (RJ) e São Paulo (SP). Lula acompanhou-o nas duas primeiras cidades.
Macron é recebido no Planalto com honrarias de chefe de Estado. Terá uma reunião bilateral com Lula e assinará acordos de cooperação.
Em seguida, os dois líderes seguirão para a sede do Itamaraty, onde ocorrerá um almoço em homenagem ao francês. À tarde, Macron terá um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), encerrando sua visita ao Brasil.
No Pará, Lula e Macron anunciaram um plano de investimentos em bioeconomia para a amazônia. A iniciativa pretende alavancar € 1 bilhão (cerca de R$ 5,3 bilhões) em recursos públicos e privados nos próximos quatro anos. O montante deve ser voltado tanto para a floresta amazônica em território brasileiro quanto para aquela que está na Guiana Francesa (território do país europeu).
Em Itaguaí, os dois presidentes defenderam a ampliação da cooperação militar entre seus países para que, juntos, atuem na manutenção da paz mundial.
Em São Paulo, Macron teve uma agenda extensa. Fez um discurso em um fórum econômico organizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e seguiu para o campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital, onde participou da cerimônia de inauguração da unidade do Institut Pasteur de São Paulo.
Em seguida, o presidente da França foi ao Lycée Pasteur, na Vila Mariana, onde houve uma recepção para a comunidade francesa com chefs de cozinha renomados. No mesmo local, Macron participou de um coquetel com estudantes e jornalistas de seu país.
Mais tarde, participou de um jantar misterioso, restrito a convidados, no hotel Rosewood, um dos mais luxuosos da cidade, no bairro da Bela Vista (região central).
A viagem de Macron marca capítulo principal de uma aliança política pensada pelos dois chefes do Executivo como uma espécie de ponte entre os países ricos e o chamado Sul Global —uma parceria que começou a ser construída antes de mesmo de o petista iniciar seu terceiro mandato.
Macron é visto como aliado estratégico por Lula por duas razões: primeiro, porque ele o recebeu com honrarias no Palácio do Eliseu em novembro de 2021, quando o petista era a principal liderança de oposição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O gesto foi calculado tanto para relançar Lula como ator de alcance global como para provocar o então chefe de Estado brasileiro, com quem o francês vinha acumulando atritos desde 2019.
Em segundo lugar, auxiliares de Lula consideram a França o país do G7 (grupo liderado pelos EUA e que reúne as principais economias do Ocidente) com a política externa mais independente. Aos olhos do Planalto, assim, Paris teria maior disposição para adotar iniciativas que não são teleguiadas pelos americanos.
Como exemplo, conselheiros do petista lembram que Macron já defendeu maior autonomia da Europa e argumentou que o bloco não deve necessariamente se alinhar às posições americanas no quadro atual da geopolítica.
Nesse sentido, o Palácio do Planalto vê o presidente francês como um líder que pode levar alguns dos temas caros aos países emergentes à mesa do G7.
De acordo com uma fonte da diplomacia francesa, Macron também enxerga em Lula um chefe de Estado capaz de atuar como intermediário entre os países ricos e as economias em desenvolvimento.
Essa autoridade do governo da França diz que há convergência estratégica entre os dois países e que ambos possuem a capacidade de falar com outros atores regionais. Segundo ela, trata-se de uma qualidade necessária para melhorar o diálogo entre esses dois polos do globo.