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Podcast conta como ultradireita ganhou espaço em Israel – 19/03/2024 – Mundo

A ultradireita religiosa ensinou Israel a enxergar com tolerância ideias que há algumas décadas eram rejeitadas como aberrações. Como, por exemplo, achar que as fronteiras do território foram fixadas há muitos séculos pela Bíblia.

Nisso acreditaram personagens como o rabino Meir Kahane, assassinado em 1990. Para ele, o sionismo não era compatível com o modelo ocidental de democracia. É o que também pensa o deputado e ministro da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, principal dirigente do partido radical Otzima Yehudit. Ele integra a coalizão do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

A história da ultradireita israelense foi o tema de recente podcast da NPR, a emissora americana de rádio pública. A montanha de informações que o podcast acumulou é compreensivelmente seletiva e não traz a direita dos atentados ocorridos antes da criação do Estado e tampouco leva em conta o crescimento do conservadorismo com a imigração. Sobretudo dos judeus russos, que chegaram depois de 1991, após o colapso da União Soviética.

A direita, num país em que os trabalhistas representavam uma esquerda moderada, passou a crescer em 1967, com a Guerra dos Seis Dias. A conquista militar da Cisjordânia abriu espaço para assentamentos. Os judeus ortodoxos passaram a ver como religiosos os territórios até então definidos por critérios laicos.

Mas o momento em que a direita se espetacularizou em público veio bem depois, em outubro de 1995. O direitista Likud, partido havia quase três décadas na oposição, convocou em Jerusalém manifestação contra o primeiro-ministro trabalhista Yitzhak Rabin, que negociara com os palestinos os Acordos de Oslo, que poderiam criar um Estado árabe —o que não aconteceu— em terras que até 1967 pertenciam ao Egito (Gaza) e à Jordânia (Cisjordânia).

Rabin acabou assassinado por um judeu extremista de direita. A viúva dele acusou Netanyahu de insuflar os ânimos que levaram ao atentado.

Esses ânimos já haviam sido testados alguns anos antes. Meir Kahane, rabino nascido em Nova York, criara em Israel um partido, o Kach, favorável à expulsão de toda a população palestina e à transformação de Israel em Estado teocrático. Ele chegou a ser preso por produzir bombas e planejar atentados. Seu assassinato, nos Estados Unidos, foi praticado por um americano de ascendência egípcia.

Na linguagem política israelense, nota o podcast, sobreviveu o “kahanismo” como nome do posicionamento radical. Itamar Ben Gvir é importante nessa corrente. Recém-saído da adolescência, ele deu entrevista à TV israelense durante as manifestações contra os Acordos de Oslo. E empunhava um desenho do premiê trabalhista Rabin vestindo um capuz palestino.

Na mesma manifestação, outros extremistas retratavam Rabin em uniforme de oficial nazista, diz Natasha Roth-Rowland, presente ao podcast como pesquisadora da Aliança Diáspora, grupo de combate ao antissemitismo.

O fato é que Ben Gvir cresceu politicamente ao liderar apoiadores religiosos dos assentamentos da Cisjordânia, que a ONU reconhece como território árabe.

A ultradireita teve pouco a ver com o Likud, partido conservador, quando em 1977 o direitista Menachem Begin obteve maioria parlamentar e se tornou primeiro-ministro. Begin qualificava Kahane como lunático, e seu partido votou pela cassação do registro do partido dele. O namoro do Likud com os radicais é bem mais recente e foi patrocinado por Netanyahu, interessado em compor uma frente invencível no Knesset, o parlamento unicameral.

A visão anti-institucional dos radicais permitiu que Netanyahu aprovasse no ano passado uma lei que proibia à Corte Suprema a revisão de textos aprovados por deputados. Protestos da oposição ocuparam as ruas de Jerusalém e Tel Aviv. Foi uma demonstração de força que seria apenas engavetada em outubro, por conta da união para o enfrentamento militar ao Hamas.

Os radicais apoiam o premiê em sua política de evitar qualquer discussão consequente sobre a criação de um Estado palestino. Para a vertente religiosa do grupo, Israel tem o direito a todas as terras do Mediterrâneo ao rio Jordão. A isso se chama sionismo revisionista, disse no podcast Sara Yael Hirchhorn, professora de história na Universidade de Haifa. É a versão oposta da mesma tese do Hamas, grupo religioso que defende que toda a extensão do mesmo território seja entregue ao islamismo.

Os participantes do podcast da NPR não foram convidados a prever o comportamento eleitoral da ultradireita em caso de eleições que acompanhem o desfecho da guerra contra o Hamas. E nem discorreram sobre o fato de parte dos religiosos sentirem-se hoje reticentes, já que para eles a prioridade não é atirar mais bombas em Gaza, mas libertar os reféns em poder dos terroristas desde 7 de outubro.

Fonte: Folha de São Paulo

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