Legisladores dos Estados Unidos estão colocando obstáculos para liberar um financiamento de milhões de dólares para o Haiti que o governo de Joe Biden considera crucial para amenizar a violência crescente no país caribenho.
O deputado Michael McCaul, presidente republicano do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, e o senador Jim Risch, principal republicano no Comitê de Relações Exteriores do Senado, dizem precisar de mais garantias para liberar os US$ 40 milhões (R$ 199 milhões) solicitados pelo Departamento de Estado.
“Após anos de discussões, pedidos repetidos de informações e fornecimento de financiamento parcial para ajudá-los a planejar, a administração só enviou esta tarde um plano preliminar para lidar com esta crise”, afirmaram Risch e McCaul em um comunicado conjunto na última terça-feira (12). “Dada a longa história de envolvimento dos EUA no Haiti com poucos resultados bem-sucedidos, a administração deve ao Congresso mais detalhes antes de receber mais financiamento.”
Segundo assessores do Congresso, porém, o dinheiro retido pode impedir o envio de força policial do Quênia para o Haiti, já que os US$ 40 milhões cobririam custos essenciais para a missão. Na última quarta-feira (13), o presidente do país africano, William Ruto, afirmou que enviaria reforço policial à nação caribenha um dia após suspender os planos.
Anteriormente, o Quênia havia assumido perante a ONU a responsabilidade de liderar uma missão multinacional para ajudar os haitianos a combater as gangues armadas e proteger a infraestrutura urbana, mas desafios judiciais fizeram o país pedir para ser pago antecipadamente.
O Departamento de Estado está dialogando com o Congresso sobre a aprovação dos fundos, disse, sob anonimato, um alto funcionário do Departamento de Estado à agência de notícias Reuters.
Há anos a situação de violência no Haiti se agrava paulatinamente com a atuação de gangues armadas que dominam a maior parte da capital do país, Porto Príncipe. A insegurança alimentou uma crise humanitária que interrompeu o fornecimento de alimentos e forçou centenas de milhares de pessoas a deixarem suas casas.
A crise escalou no início desta semana, quando o primeiro-ministro Ariel Henry prometeu renunciar assim que um conselho de transição e um líder temporário fossem escolhidos —decisão que fez o Quênia anunciar que pausaria o envio da missão.
Henry assumiu a gestão do país após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021. As investigações sobre o caso ainda estão em andamento e tiveram como um dos últimos desdobramentos a revelação de que a viúva de Moïse é uma das acusadas pelo crime.
A crise piorou com a morte de Moïse, já que figuras como o ex-policial Jimmy Chérizier, conhecido como “Barbecue” e líder da coalizão de gangues G9, ganharam projeção e ocuparam o vácuo no poder. Um dos dilemas é o de que, mesmo com a predisposição queniana de liderar a missão multinacional e de enviar seus homens, há muitas incertezas sobre a formação de um conselho presidencial de transição.
Na última segunda-feira (11), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, anunciou em conversas na Jamaica que os EUA estavam aumentando sua promessa de financiamento para US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão).
De acordo com um funcionário do Departamento de Estado, foram realizadas 68 reuniões com o Congresso sobre a situação no Haiti, acrescentando que US$ 50 milhões (R$ 248,8 milhões) em fundos, incluindo o que está retido, seriam destinados a equipamentos para a força, treinamento, kits de pessoal e uniformes. Desse valor, US$ 10 milhões (R$ 49,8 milhões) que foram liberados já foram comprometidos, incluindo para reembolsar o Quênia pelo treinamento, disse o funcionário.
Keith Mines, vice-presidente para a América Latina no Instituto de Paz dos EUA, disse que ficaria surpreso se o Quênia pudesse enviar sua polícia antes de receber os fundos. “Não acho que eles consigam ir até que o financiamento esteja disponível”, afirmou Mines.