Na reta final da campanha para as eleições do próximo domingo (10) em Portugal, o líder do partido de ultradireita Chega afirmou que, se for escolhido primeiro-ministro, proibirá a entrada do presidente Luíz Inácio Lula da Silva no país para as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim à ditadura lusitana, em 25 de abril.
O deputado André Ventura, cuja candidatura tem apoio público do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ameaçou ainda prender Lula em caso de insistência na visita.
“Se o Chega vencer as eleições legislativas, a 25 de abril de 2024 [50 anos da Revolução dos Cravos] o senhor presidente do Brasil, Lula da Silva, não vai entrar em Portugal”, afirmou, recebendo aplausos dos presentes em um comício nesta quarta (6).
“Eu garanto-vos que, se eu for primeiro-ministro, o senhor Lula da Silva ficará no aeroporto. E, se insistir, vai para uma cadeia”, declarou Ventura, que ainda provocou o petista ao dizer que “isso não será uma grande novidade para ele”. Lula ficou preso por 580 dias na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, até 8 de novembro de 2019.
“Neste país ainda mandamos nós e neste país ainda escolhemos nós quem vem e quem não vem. Corruptos já temos cá muitos, não precisamos que venham mais de fora”, afirmou.
O líder da ultradireita também disse querer limitar a entrada do primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, que está em visita no Brasil e se encontrou com Lula. “[Sánchez] Só entrará quando necessário, porque também não queremos que entre muitas vezes.”
Em 2023, durante uma visita oficial de Lula a Portugal, o Chega organizou um protesto em frente ao Parlamento luso contra a presença dele no local, precisamente durante uma sessão comemorativa do 25 de abril.
No momento do discurso de Lula aos deputados portugueses, Ventura e os outros parlamentares de sua bancada começaram a bater nas mesas e a fazer barulho para atrapalhar a fala do presidente brasileiro.
Ainda que não haja informações sobre uma eventual visita de Lula a Portugal para os 50 anos do fim da ditadura, a diplomacia lusa habitualmente convida os chefes de Estado e de governo dos países lusófonos para as principais celebrações do país.
Apesar do tom de convicção do discurso, as pesquisas de intenção de voto indicam que André Ventura tem poucas chances de se tornar primeiro-ministro nas eleições de domingo (10).
A maior parte das sondagens mostra um cenário de empate técnico entre o Partido Socialista, atualmente no poder, e a Aliança Democrática (AD), coalização formada pelas legendas da direita tradicional lusa, liderados pelo PSD (Partido Social Democrata). O Chega aparece em terceiro lugar, girando em torno de 12% das preferências.
O Chega, contudo, deve sair fortalecido do pleito, convocado de forma antecipada após a queda do premiê António Costa, que pediu demissão em meio a uma investigação de corrupção que atingiu o núcleo do governo socialista. A sigla populista deve ampliar o número de deputados no Parlamento, consolidando ainda mais a posição de terceira força política na Casa.
Se for confirmado nas urnas, o crescimento da bancada do Chega também pode complicar a formação do próximo governo. O líder do PSD (direita tradicional), Luís Montenegro, afirmou que, se for eleito, não pretende incluir o Chega nas negociações para o Executivo. Uma votação expressiva nas urnas, porém, tem potencial de dificultar essa decisão.