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EUA: Sanções estão na raiz de crise migratória – 29/02/2024 – Mundo

Muito para o desgosto do presidente Joe Biden, a chamada crise migratória na fronteira com o México se tornou um tema importante de campanha. Migrantes sem documentos têm cruzado a fronteira dos Estados Unidos em números recordes –2,5 milhões apenas em 2023, segundo a Patrulha de Fronteira.

Devido à falta de infraestrutura e de capacidade administrativa, surgiram cenas alarmantes de caos, superlotação e desespero humano. Pesquisas recentes mostram que muitos eleitores culpam Biden e acham que ele está fazendo um trabalho ruim ao administrar o fluxo de migrantes.

Donald Trump, que provavelmente enfrentará Biden na eleição de novembro, capitalizou a situação jogando com os temores generalizados, porém infundados, dos impactos dos imigrantes sem documentos sobre a economia e a segurança pública. Com uma retórica hitlerista, ele se referiu à onda migratória como uma “invasão” que está “envenenando o sangue do nosso país” e prometeu “instituir a maior operação de deportação da história americana”.

Em resposta, Biden mudou para uma abordagem mais dura, semelhante à de Trump, limitando a capacidade dos solicitantes de asilo de entrar nos EUA e aumentando drasticamente as deportações de imigrantes sem documentos.

A promessa anterior de Biden de abordar as “causas fundamentais” econômicas e sociais da migração foi deixada de lado. Kamala Harris, encarregada de implementar essa política na América Central, fez pouco mais do que ganhar notoriedade regional ao dizer sem rodeios aos migrantes: “Não venham”.

Na verdade, as próprias políticas de Biden são uma “causa fundamental” da migração para os EUA. Nos últimos anos, venezuelanos e cubanos, que antes constituíam uma pequena fração dos migrantes na fronteira, agora representam uma proporção significativa da população migrante, com ao Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês) documentando ocorrências com quase 425 mil cubanos e mais de 440 mil venezuelanos de 2022 a 2023. Ambos os grupos estão fugindo de condições econômicas e humanitárias graves em seus países de origem —causadas, em grande parte, por sanções unilaterais introduzidas sob Trump e mantidas sob Biden.

Trump adotou estratégias de “pressão máxima” visando a ambos os países. Os planos de normalização de Barack Obama com Cuba foram descartados, e o bloqueio dos EUA foi amplamente expandido. A Venezuela foi submetida a sanções financeiras abrangentes em 2017 e sanções sobre o petróleo em 2019, precipitando um colapso da economia dependente do petróleo do país. Biden, com medo de alienar os eleitores cubano-americanos na Flórida, manteve em grande parte as sanções abrangentes em vigor.

Estas sanções falharam em alcançar seu objetivo de mudança de regime e causaram imenso sofrimento humano, incluindo dezenas de milhares de mortes evitáveis, como mostram estudos. Agora está cada vez mais claro que elas se tornaram politicamente custosas para Biden.

Os democratas no Congresso emitiram o alarme: no ano passado, a parlamentar Veronica Escobar, copresidente da campanha eleitoral de Biden, representante de um distrito do Texas que faz fronteira com o México, encabeçou uma carta pedindo a Biden, com relação à Venezuela e a Cuba, que “aja rapidamente para suspender as sanções econômicas fracassadas e indiscriminadas [que] servem como fatores adicionais de incentivo à migração”.

Outros líderes democratas, do Tennessee e de Massachusetts, enviaram a Biden pedidos semelhantes, enquanto líderes regionais, incluindo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o presidente colombiano, Gustavo Petro, e outros chefes de Estado latino-americanos também criticaram o impacto das sanções dos EUA na migração.

Com a migração agora sendo um tema central e inevitável na campanha presidencial, Biden finalmente ouvirá seus aliados democratas e da região e reverterá as sanções de Trump?

Fonte: Folha de São Paulo

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