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Livro sobre Joe Biden traz revelações da Casa Branca – 06/09/2023 – Lúcia Guimarães

O presidente Joe Biden, ao contrário de Donald Trump, não enriquece autores e editoras. Livros sobre o líder octogenário, apelidado por republicanos de Sleepy Joe (Joe Dorminhoco), não se tornam best sellers.

Isso mudou nesta semana, quando um livro da primeira metade da Presidência Biden foi lançado já no topo da lista de vendas da Amazon. “The Last Politician: Inside Joe Biden’s White House and the Struggle for America’s Future” (o último político: dentro da Casa Branca de Joe Biden e a luta pelo futuro dos Estados Unidos) é obra do jornalista Franklin Foer, que, ao longo do processo, admitiu ter superado um profundo ceticismo sobre o presidente eleito —que teve apoio até de eleitores republicanos— com a missão de exorcizar o pesadelo que culminou com a invasão do Capitólio.

O título do livro é uma referência não só ao fato de que Biden ganhou sua primeira eleição em 1970 e nunca mais exerceu outra profissão, mas à afetação da nova safra de eleitos em plataformas de identidade antipolítica, como os autoproclamados outsiders Donald Trump e Barack Obama.

O melhor e mais deliciosamente exame escrito de Biden foi publicado em 1992 e, portanto, é incompleto. “What It Takes, The Way to the White House” (o que é preciso, o caminho para a Casa Branca), de Richard Ben Cramer, era um mergulho em seis campanhas presidenciais, pintando um retrato do então senador, que levou Biden a admitir, no funeral de Cramer, em 2013, ter feito descobertas sobre si mesmo nas páginas nada lisonjeiras do livro.

O novo livro dificilmente vai despertar uma introspecção inédita no presidente. Mas, além de trazer revelações sobre o caos, as derrotas e conquistas da primeira metade desta Presidência, vai preencher uma lacuna deixada pela cínica cobertura de Biden.

A maioria dos americanos, mesmo os que consomem notícias em veículos tradicionais, não saberia citar fatores que tornam Joe Dorminhoco, useiro e vezeiro de gafes e tropeções, o mais consequente ocupante democrata da Casa Branca desde Lyndon Johnson.

Franklin Foer enumera argumentos de como Biden, com assessores tecnocratas que se afastaram do clintonismo, mudou a trajetória política que marcou o partido por mais de duas décadas –na deferência aos mercados, distância segura de sindicatos e tolerância com monopólios.

Política industrial deixou de ser palavrão nesta Presidência, combater trustes passou a ser virtude capitalista e o estímulo a fontes de energia limpa deu um salto expressivo.

No mês passado, o senador Bernie Sanders deu uma pancada nos esquerdistas que querem uma terceira candidatura em 2024, defendendo energicamente a reeleição de Biden e criticando o circense professor Cornel West por lançar uma pré-candidatura independente. Ele condenou quem prefere arriscar a volta de Donald Trump para concluir o projeto do fascismo gângster.

Biden e Sanders têm uma relação simbiótica, relata Foer. Biden conta com o político de Vermont e líder da ala esquerda do Partido Democrata para fazer pressão por uma agenda progressista e aumentar o espaço para a Casa Branca implementar políticas que o até hoje muito mais popular Obama não ousou defender.

Se Biden e Trump continuam empatados nas pesquisas, apesar da distância abissal entre os dois e da ameaça existencial e planetária que o republicano representa, a obra de Foer é um argumento pelo fracasso, não do presidente, mas do ecossistema da informação no país.


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Fonte: Folha de São Paulo

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