Um dos mais próximos aliados de Alexei Navalni pediu para que os apoiadores do opositor morto na semana retrasada façam um protesto em nome dele contra o presidente russo, Vladimir Putin.
O “testamento político de Alexei Navalni”, como disse no YouTube o ativista Leonid Volkov, seria um protesto no qual os manifestantes simplesmente apareceriam para votar ao mesmo tempo, às 12h, causando longas filas em seções eleitorais.
A eleição russa começa de forma pontual e remota no dia 15 de março, mas seu dia principal e encerramento será no 17. Como a lei russa é rígida contra protestos não autorizados, a ideia de lotar seções eleitorais surgiu como engenhosa.
Ela foi expressa pelo próprio Navalni em uma postagem feita por seu time em redes sociais no dia 1 passado, quando bolou o “Meio-Dia contra Putin”. Quinze dias depois, o ativista caiu morto durante uma caminhada na prisão em que cumpria mais de 30 anos de cadeia, no Ártico, segundo o relato oficial.
O Kremlin reagiu à postagem de Volkov, que era um dos braços-direitos de Navalni e vive no exílio. “Essas pessoas, os ditos apoiadores [de Navalni], são conhecidos pelos seus apelos provocativos para quebrar a lei, e haverá consequências para quem atender tais chamados”, disse o porta-voz Dmitri Peskov.
Putin é o franco favorito para vencer a eleição e estender até ao menos 2030 sua permanência no Kremlin, iniciada quando foi indicado primeiro-ministro em agosto de 1999. Em 2028, se estiver na cadeira, será o mais longevo líder da história moderna russa, ultrapassando o ditador soviético Josef Stálin.
Ele enfrentará apenas três oponentes “pro forma”, dado que dois nomes que sugeriam uma plataforma de oposição foram barrados pela Comissão Central Eleitoral.
A morte de Navalni, que nunca foi um líder popular no sentido de densidade eleitoral, segue sob mistério. Seu corpo foi enfim entregue à família no sábado (24), mas não há ainda uma certificação acerca da causa da morte —vista como natural nos laudos preliminares a que seus aliados tiveram acesso.
Em 2020, o opositor havia sido envenenado na Sibéria, e ao deixar a Rússia em coma para tratamento na Alemanha, violou a liberdade condicional a que estava submetido, levando a um processo de sentenças sucessivas que o deixaram na cadeia até a morte.
A dúvida agora é sobre seu enterro. Segundo a equipe de Navalni, que opera com advogados dentro da Rússia mas é baseada no exterior, não foi possível encontrar um lugar para um velório público ainda. A mãe do ativista, Ludmila, havia acusado as autoridades russas de obrigá-la a enterrá-lo rapidamente e seu exposição pública.