No centro de São Paulo, no início da Liberdade, existe um lugar que todos sabem onde fica, mas poucos sabem o que realmente é: a Casa de Portugal.
Fundada em 1935, a “casa” levaria 20 anos para se instalar no majestoso solar talhado em granito, dizem que inspirado pelo gênio revolucionário do arquiteto português Ricardo Severo, responsável por projetos de impacto como a Faculdade de Direito do largo São Francisco.
Desde a sua fundação, a Casa se afirma “a” instituição da comunidade luso-brasileira e, também por isso, no melhor e no pior, vai influenciar decisivamente a opinião que os paulistas têm das gentes da terrinha. De Eusébio a Ronaldo. De Zambujo a Leal.
O atraso estrutural em relação à Europa, vítima de seu fascista e anacrônico Estado Novo (1928-1974), ajudou a sedimentar a história, mas a caricatura antiquada e a piada fácil também se devem à ditadura brasileira que, como todas as ditaduras, aprecia gestas toscas, frágeis e longínquas.
Em política, percepção é tudo. Como a redemocratização no Brasil ocorreu em um momento bem mais moderno (1985) que a Revolução dos Cravos (1974), esse discurso acabou perdurando no tempo, e o ranço com que o brasileiro comum fazia a piada de português até depois da primeira década do século 21 se devia fundamentalmente a muita desinformação e ainda maior desconhecimento.
O Portugal europeu — seguro, moderno, escolarizado, culturalmente rico e sofisticado, liderante em tecnologia, capaz de albergar eventos de dimensão global e de se tornar um dos mais reconhecidos destinos do mundo— continuou invisível por mais uns anos.
Mas hoje tudo é diferente. Andando pelas ruas, nos táxis e em edifícios públicos, falando com homens de negócios, políticos, servidores, estrelas de televisão, autores, atores, poetas e escritores (até você aí lendo este texto), nos deparamos quase unanimemente com a mesma sentença: eu amo Portugal.
Na última década o Brasil descobriu este Portugal diferente. Filho da Revolução dos Cravos, ele hoje é um lugar desejado por cada vez mais brasileiros. Fazendo jus ao seu legado, a mesma Casa de Portugal que representou essa imagem anacrônica hoje se prepara, de novo, para ser futuro.
Antecipando o ano das celebrações dos 50 anos da conquista da democracia portuguesa, a Casa inaugura um inovador ciclo de debates. Na mesma mesa, o escritor Tom Farias, biógrafo de Carolina Maria de Jesus, e o representante do Estado de Portugal em São Paulo, o embaixador António Pedro Rodrigues da Silva, vão conversar sobre o futuro comum dos povos da língua portuguesa.
No Brasil o futuro se encontra. Esta conversa (11/9), que ocorre na mesma semana em que o governo brasileiro regulamenta a concessão de visto de autorização de residência a nacionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, também marca uma nova era na relação com Portugal. Belos tempos se anunciam para as austeras colunas sonhadas por Severo.
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