O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que o motivo pelo qual os Estados Unidos vetaram a terceira resolução apresentada ao Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza é que ela não colocaria um fim efetivo na guerra Israel–Hamas.
A declaração foi dada nesta quinta-feira (22) pelo chefe da diplomacia americana após o fim da reunião de chanceleres do G20, no Rio de Janeiro.
“Essa resolução não resultaria por si só num cessar-fogo. A questão é: qual a forma mais efetiva de avançar [numa solução]? Uma forma de que os reféns [israelenses sequestrados pelo Hamas] sejam liberados, que uma pausa humanitária seja estendida e que, mais importante, que leve ao fim do conflito”, disse Blinken. “O melhor caminho para isso é exatamente que estamos fazendo agora, que é trabalhar intensamente por um acordo na liberação dos reféns.”
Como membro permanente do Conselho de Segurança, ao lado de China, Rússia, Reino Unido e França, os EUA têm poder de veto. A delegação americana foi a única a se posicionar contra a proposta, feita pela Argélia e que teve adesão de 13 países do conselho; os britânicos preferiram se abster.
“Esta resolução em particular tinha duas questões. A primeira era que não falava sobre os reféns. A segunda foi o timing, já que, no momento atual, em que a prioridade é os reféns, qualquer coisa que atrapalhe isso é contraproducente”, disse Blinken.
Nos bastidores, os EUA propuseram uma versão alternativa a uma resolução do Conselho de Segurança na qual se opõem a uma invasão em larga escala do Exército de Israel em Rafah, cidade que concentra os deslocados internos pelo conflito, segundo a agência de notícias Reuters. Um alto funcionário do governo Biden afirmou à agência, porém, que não há pressa em votar a resolução e que a ideia é continuar com negociações.
No Rio, o secretário de Estado disse ainda que o desejo de Washington é conseguir chegar a um acordo de paz duradouro entre Israel e a Palestina. Durante o encontro do G20, ele apontou que um caminho para isso é a construção de um Estado palestino —a chamada solução de dois Estados.
No entanto, o americano condicionou qualquer possibilidade de pausa nos ataques de Israel à Gaza à soltura dos reféns. Desde outubro, quando houve o ataque terrorista do Hamas a civis israelenses, cerca de 30 mil palestinos foram mortos em ofensivas do país de Binyamin Netanyahu.
Discordância ‘profunda’ com fala de Lula
Ainda durante a entrevista a jornalistas nesta tarde, Blinken comentou sobre a declaração do presidente Lula (PT), na qual o brasileiro comparou a situação em gaza ao Holocausto.
“Sobre a comparação de situação em Gaza com o Holocausto, nós discordamos profundamente”, disse. “Mas isso é algo que amigos fazem, nós podemos ter discordâncias, até mesmo profundas, sobre uma questão ou aspecto específico e mesmo assim continuar o trabalho vital que estamos fazendo juntos.”
No encontro que teve com Lula, na quarta-feira (21), Blinken também apontou uma segunda divergência com o presidente brasileiro. O americano afirmou que não vê um genocídio acontecendo no território palestino.