Apos dois dias de negativas, o Ministério da Defesa da Romênia confirmou nesta quarta (4) que seu território foi atingido por partes de um drone de ataque russo empregado no bombardeio do porto ucraniano de Izmail, a poucas centenas de metros de sua fronteira.
“Eu confirmo que partes do que parecem ser elementos do drone foram encontradas”, afirmou Tilvar à rede Antena 3 CNN. Ele afirmou também, repetindo o discurso oficial, que em nenhum momento houve ameaças militares a seu país no incidente.
“Se isso for confirmado, seria uma situação inadmissível e uma séria violação da integridade territorial e soberania da Romênia”, afirmou o presidente do país, Klaus Iohannis, que horas antes havia negado ter havido queda de drone russo na margem romena do rio Danúbio.
O episódio ilustra um dos aspectos da invasão russa da Ucrânia: o temor do Ocidente de que o conflito em suas fronteiras escale para uma guerra entre o Kremlin e a Otan, a aliança militar de 31 membros liderada pelos Estados Unidos, criada em 1949 para conter a União Soviética na Europa.
Pelas regras da Otan, se um de seus integrantes for atacado, todos foram, obrigando uma resposta conjunta. O incidente ocorrido na madrugada da segunda (4) não significa uma ação russa contra um país da aliança, caso da Romênia, mas tudo é uma questão de interpretação.
Quando um míssil de defesa aérea ucraniana caiu na Polônia, matando duas pessoas no fim do ano passado, houve alarme geral porque Varsóvia é um dos mais beligerantes integrantes da Otan. Até ser comprovado que a arma era de Kiev e as desculpas serem apresentadas, a expectativa sobre a reação polonesa gerou apreensão.
A cautela ocorre no fornecimento de material bélico ocidental aos ucranianos. Demorou um ano para que tanques pesados fossem enviados, e até agora a chegada de caças americanos F-16 é um anúncio.
Logo após o bombardeio ao porto de Reni, na Ucrânia, o Ministério da Defesa em Kiev afirmou ter evidências de que o território romeno havia sido alvejado. A chanceler do país vizinho, Luminita Odobescu, se apressou em dizer que não havia ocorrido nada grave, apesar de o bombardeio ter sido próximo de sua fronteira.
Nesta quarta pela manhã, o presidente Iohannis mantinha a negativa. “Drones russos caíram perto, bem perto da fronteira da Otan. Nenhuma parte de drone ou componente de outros armamentos atingiram o território da Romênia”, disse, só para modular sua avaliação depois.
Contra ele havia a evidência de imagens na internet da explosão do lado romeno do Danúbio durante o ataque com drones Shahed-136 de origem iraniana que os russos usam. Elas foram analisadas por sites de georreferenciamento, que confirmaram o local da queda. Segundo imagens de satélite, era um campo desabitado em uma alça do rio.
Como Bucareste não pretende iniciar a Terceira Guerra Mundial por eventuais vacas mortas na explosão, o assunto foi abafado. Segundo Odobescu, protocolos para incidentes deste tipo foram discutidos na cúpula da Otan de julho, mas ela evidentemente não os detalhou. A aliança reforçou a presença na região após o aumento das hostilidades no mar Negro.
Os ataques a portos ucranianos no Danúbio e no principal terminal do país, em Odessa, começaram em julho, após a Rússia deixar o acordo que permitia escoamento de grãos do adversário pelo mar Negro. Mediado pela Turquia e pela ONU, o acerto havia sido estabelecido em julho do ano passado, aliviando a crise inflacionária de alimentos devido à guerra.
Só que a Rússia diz que não houve a contrapartida esperada, com o Ocidente reintegrando bancos de crédito agrícola russos ao sistema de trocas internacionais Swift e permitindo que seguradoras cubram o transporte de seus grãos e fertilizantes. Moscou e Kiev têm cerca de um terço do mercado mundial de trigo.
Na segunda, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, visitou Vladimir Putin para discutir o caso e ficou ao lado da posição do colega russo, pedindo que Kiev amenize sua posição no debate dos grãos. O governo de Volodimir Zelenski reagiu mal, dizendo que não iria contemporizar. Enquanto isso, drones seguem caindo sobre Reni e Izmail, no Danúbio, e Odessa.