Após conquistar a estratégica cidade de Avdiivka no sábado (17), a Rússia busca capitalizar a vitória com duas novas ofensivas no sul e no leste da Ucrânia.
Com isso, o presidente Vladimir Putin tenta manter o momento positivo para suas forças às vésperas do segundo aniversário da invasão que promoveu em 24 de fevereiro de 2022 contra o país vizinho, que vive o momento mais difícil desde a irrupção do conflito.
A principal ação ocorre em Zaporíjia, 1 das 4 regiões anexadas pelo russo em 2022 ao arrepio da lei internacional. Lá, a fatia norte da província, separada pelo rio Dnipro, segue em mãos ucranianas.
Segundo disse nesta segunda (19) no Telegram o general Oleksandr Tarnavaski, responsável pelo setor, os russos lançaram ondas sucessivas de ataques contra Robotine, cidade que já controlaram na guerra. “A situação é bastante dinâmica. O inimigo está infligindo fogo pesado”, afirmou o porta-voz de Tanavski, Dmitro Likhonvi, à TV estatal ucraniana.
A segunda frente é uma continuação da tomada de Avdiivka, que ficou quatro meses sob ataque intenso da Rússia e, segundo estimativas independentes não confirmadas, pode ter custado 30 mil vidas a Moscou.
Tendo fechado o bolsão sobre a cidade, processo no qual tomaram diversos prisioneiros segundo Kiev, os russos agora se movem a noroeste, em direção presumida de Kramatorsk —cidade que é sede administrativa dos 45% da região de Donetsk que estão sob controle ucraniano.
As tropas de Volodimir Zelenski que fugiram de Avdiivka se posicionaram em linhas defensivas secundárias neste caminho, o que sugere mais batalhas, só que em condições menos favoráveis à frente.
Donetsk está, ao lado de Lugansk, no centro do “casus belli” de Putin para a invasão. Três dias antes do ataque, ele reconheceu os dois territórios dominados parcialmente por separatistas pró-Rússia desde a guerra civil inciada em 2014 como repúblicas autônomas.
Ato contínuo, elas pediram proteção militar a Moscou, um movimento combinado para dar um verniz de legitimidade política à invasão, que estava sendo cozida há quatro meses pelo acúmulo de tropas em três frentes diferentes em torno da Ucrânia. A ação sucedeu o ultimato por uma negociação para impedir a entrada de Kiev na Otan, ignorado pela aliança militar ocidental.
Conquistar uma fatia significativa ou toda Donetsk, cuja capital homônima está em mãos pró-Rússia desde 2014, quando Putin anexou a Crimeia em retaliação pela derrubada do governo aliado em Kiev, seria um gol político para o russo.
O presidente irá disputar pela quinta vez o cargo, e irá ganhar dadas as condições políticas russas, em pouco menos de um mês. Uma vitória substantiva dessas ajudaria a manter seu apoio, de 85% segundo o instituto independente Levada, às vésperas do pleito.
O clima político é sensível, com temores de uma nova onda de repressão interna após as eleições, da qual um aperitivo pode ter sido oferecido nas ações policiais contra apoiadores do ativista Alexei Navalni, que morreu na cadeia na sexta (16).
Kiev, por sua vez, tem tentado transparecer calma. O novo comandante das Forças Armadas, Oleksandr Sirskii, disse nesta segunda (19) que mais três aviões de ataque e caça da Rússia foram derrubados por uma bateria americana Patriot, elevando a seis os alvos derrubados segundo ele desde o fim de semana.
Sirskii está pressionado a mostrar resultados. Ele assumiu a cadeira do popularíssimo Valeri Zalujni, demitido por Zelenski devido a diferenças sobre a condução da guerra —os dois homens não se acertaram acerca do desenho da contraofensiva lançada em junho, que ao fim fracassou.
Apesar do afundamento de um navio e da propagandeada derrubada de caças, o cartão de visitas de Sirskii até aqui é a derrota em Avdiivka, o maior ganho russo desde a queda de Bakhmut, em maio do ano passado. Neste cenário, Kiev torce para que Joe Biden vença a resistência da oposição republicana ao pacote de R$ 300 bilhões parado na Câmara dos EUA, considerado vital para tentar recompor suas defesas.