Ações militares e a escassez de combustível deixaram o maior hospital da região sul da Faixa de Gaza completamente fora de serviço neste domingo (18), segundo autoridades locais e a ONU. A instalação estava sob ocupação de forças israelenses desde quinta (15).
“O hospital Nasser, em Gaza, não está mais funcional após um cerco de uma semana”, disse Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, na plataforma X, antigo Twitter.
Segundo Adhanom, a equipe da organização não teve permissão para entrar no hospital e avaliar as condições dos pacientes e necessidades médicas críticas. “Ainda há cerca de 200 pacientes no hospital. Pelo menos 20 precisam ser encaminhados com urgência para outros hospitais para receber cuidados de saúde; o encaminhamento médico é um direito”, acrescentou.
De acordo com autoridades de saúde locais, que são controladas pelo Hamas, o fornecimento de água para o centro médico foi interrompido porque os geradores já estavam fora de serviço há três dias. A falta de suprimentos de oxigênio, também resultado da falta de energia, causou a morte de pelo menos sete pacientes.
Neste sábado, autoridades de Israel disseram (17) ter feito a prisão de mais de cem pessoas dentro do hospital, que foi invadido por soldados de Tel Aviv na quinta (15).
O Exército israelense afirma ter conduzido buscas para “averiguar a presença” de integrantes do Hamas no hospital, localizado na cidade de Khan Younis. Além das prisões, Tel Aviv diz ter encontrado armas dentro do centro médico e homens armados nos arredores, que, segundo militares, foram mortos.
De acordo com autoridades de Tel Aviv, a invasão do hospital ocorreu após o setor de inteligência obter “informações confiáveis” de que corpos de reféns israelenses estariam no local. Além disso, ao menos dois reféns israelenses libertados disseram que foram mantidos no centro médico. Autoridades israelenses descreveram a ação como uma “operação precisa e limitada”.
O Hamas respondeu negando alegações de que seus combatentes e reféns estariam nas instalações, onde aproximadamente 10 mil pessoas buscavam abrigo no início desta semana —em tese, os hospitais são locais considerados mais seguros na guerra.
Vídeos divulgados nas redes sociais, contudo, mostram caos nos corredores escuros e tomados pela fumaça do hospital. Nas gravações é possível ouvir gritos e o som de tiros. Além dos pacientes, milhares de palestinos forçados a se deslocarem na guerra em curso há quatro meses estavam abrigados no local.
Centenas de pessoas, incluindo pacientes, profissionais da saúde e civis, permaneciam no complexo hospitalar após a invasão, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras, os palestinos que receberam ordens de Israel para abandonar o local tiveram de escolher entre ficar “e se tornar um alvo em potencial” ou sair “em um cenário apocalíptico” de bombardeios. Organizações que atuam com direitos humanos, assim, vêm manifestando preocupação com a segurança de inocentes.
A invasão do hospital ocorre em um momento em que Israel enfrenta pressão internacional crescente para demonstrar moderação em sua guerra na Faixa de Gaza. Os pedidos de um novo cessar-fogo aumentaram após Tel Aviv indicar que pretende expandir suas ofensivas contra a cidade de Rafah, mais ao sul, onde cerca de metade dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão abrigados, depois de deslocados pelo conflito.
As ofensivas contra instalações médicas em Gaza vêm causando preocupação durante todo o conflito. Nos quatro meses de guerra ocorreram invasões de hospitais em outras cidades do território palestino, bombardeios nas proximidades das unidades médicas, além de ataques contra ambulâncias.