Nas últimas semanas, Sohrab Ahmari, conhecido como um dos principais expoentes intelectuais do conservadorismo combativo de Donald Trump, tem circulado explicando por que está desistindo do populismo de direita.
Isso é um exagero; seu novo livro, “Tyranny, Inc.”, sobre as crueldades do poder corporativo nos EUA, traz elogios de republicanos populistas proeminentes como Josh Hawley e Marco Rubio. Mas ele descreve essas figuras como “brilhantes exceções à direita”, cuja disposição em considerar políticas econômicas intervencionistas contrasta com a tendência mais ampla em que o populismo está “se transformando em um produto de mídia online de nicho/lixo”, sem conteúdo político além do ressentimento das elites.
Sem dúvida, os leitores progressistas de Ahmari responderiam: “Sempre foi assim!” Mas parte da razão pela qual o autor e seu círculo receberam tanta atenção na era Trump é que a era do populismo realmente abalou as ortodoxias econômicas à direita.
O governo Trump muitas vezes recorreu, como Ahmari lamenta, a políticas reaganistas requentadas. Mas a campanha vitoriosa de Trump realmente acabou, pelo menos por um tempo, com a ênfase da era Tea Party na reforma dos benefícios sociais e na moeda forte. E Trump de fato implementou elementos de seu nacionalismo econômico, enquanto Joe Biden abraçou ideias semelhantes sobre comércio e infraestrutura, a ponto de ser justo dizer que ambos os partidos foram moldados pelo Trump de 2016.
Enquanto isso, existe um ecossistema intelectual populista à direita onde antes da era Trump havia pouco mais do que um punhado de críticos contumazes. A facção de Hawley-Rubio-J.D. Vance no Senado é pequena, mas mais influente do que qualquer equivalente do passado. E o próprio Trump, o principal candidato republicano, ainda está fazendo promessas —Novas cidades! Novas tarifas! Carros voadores!— que se assemelham mais a uma política industrial do que à economia de oferta.
Então, por que Ahmari está desesperançoso com sua causa? Em parte, ele está lidando com forças que provavelmente subestimou antes: o libertarianismo popular da base de doadores do Partido Republicano e o cinismo de seu complexo industrial de celebridades.
Mas Ahmari também está desiludido porque, embora permaneça socialmente conservador, ele pessoalmente se afastou mais para a esquerda do que alguns de seus colegas populistas.
Com suas potentes histórias de má conduta corporativa e sua descrição (um tanto exagerada) da crueldade da vida econômica americana, “Tyranny, Inc.” é um livro mais no espírito pessimista de “Nickel and Dimed”, de Barbara Ehrenreich, do que —bem, para dar um exemplo pessoal, “Grand New Party”, o livro que coescrevi com Reihan Salam há 15 anos, defendendo um conservadorismo mais populista.
Ahmari às vezes descreve sua visão do capitalismo americano como próxima às de Bernie Sanders e Elizabeth Warren, e simplesmente não há como infundir a visão completa de Sanders na atual coalizão republicana; nesse sentido, ele está certo em se considerar politicamente sem lar.
Finalmente, no entanto, Ahmari nem sempre leva em consideração como as mudanças materiais e culturais recentes complicam seu argumento de que a renovação cultural depende da transformação econômica. Se for esse o caso, o que devemos fazer com o fato de que a economia dos EUA era, sem dúvida, pior e, no entanto, a cultura era mais saudável, há 10 ou 20 anos do que é hoje?
Quando Barack Obama concorreu à Presidência, a desigualdade vinha aumentando desde a década de 1980, e a rede de segurança do sistema de saúde tinha uma lacuna significativa. Quando Trump concorreu à Presidência, a renda familiar estava estagnada desde 2000, e os formuladores de políticas econômicas permitiram que a taxa de desemprego permanecesse desnecessariamente alta.
Mas hoje a desigualdade pode estar realmente diminuindo, os salários aumentaram de forma geral e mais rapidamente para a classe trabalhadora, o desemprego está extremamente baixo e estamos mais próximos de um sistema de saúde universal do que estávamos há 20 anos. Enquanto isso, o grande problema da era Joe Biden para os assalariados tem sido um aumento da inflação, que a agenda de Sanders parece não estar preparada para resolver.
No entanto, apesar dessas melhorias econômicas, o tecido cultural parece mais desgastado do que nunca, com progressistas e conservadores preocupados com o lento desaparecimento da igreja e da família, com o aumento da criminalidade e da falta de moradia nas cidades dos EUA, enquanto uma névoa de maconha se instala sobre os jovens de vinte e poucos anos, com um desespero espiritual pairando sobre todas as camadas sociais.
Você pode culpar a Covid-19 por aprofundar essa era de sentimentos ruins. Você pode argumentar que nosso mal-estar social mostra que as melhorias econômicas não foram longe o suficiente. E você pode atribuir a culpa por certas tendências sociais, como a dependência da internet entre os adolescentes, a maus atores nas grandes empresas.
Mas em termos de prioridade e urgência, eu me pergunto se o lado conservador social mais rígido de Ahmari —os aspectos antidrogas, antipornografia, anticriminalidade de sua política, digamos— pode ser realmente mais relevante para nossa situação do que o lado progressista do New Deal que está despertando novo interesse da esquerda.
O conservadorismo cultural definitivamente precisa de uma política econômica, e o poder corporativo definitivamente molda a cultura. Mas nossa própria crise social parece um pouco menos determinada economicamente e um pouco mais essencialmente cultural em 2023 do que em qualquer momento anterior da minha vida adulta.
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