Robert Badinter, um dos principais responsáveis pela abolição da pena de morte na França, vai entrar para o Panteão, onde estão os restos mortais de algumas das figuras mais célebres da história do país. O anúncio foi feito pelo presidente Emmanuel Macron nesta quarta-feira (14), numa homenagem a ele na praça Vendôme, em Paris, em frente ao Ministério da Justiça.
Badinter morreu na última sexta (9), aos 95 anos. Advogado e ativista dos direitos humanos, ele introduziu grandes reformas depois que o socialista François Mitterrand, um opositor declarado da pena capital, foi eleito presidente em maio de 1981 e o nomeou ministro da Justiça.
Apresentar um projeto de lei para abolir a guilhotina foi uma de suas primeiras ações ao assumir a pasta. Três pessoas foram executadas na França em 1976 e 1977, durante a presidência do conservador Valéry Giscard d’Estaing, antecessor de Mitterrand.
Após um debate acalorado no Senado, a lei que aboliu a pena de morte para todos os crimes foi oficialmente promulgada em 9 de outubro de 1981.
“Seu nome deverá ser registrado ao lado daqueles que tanto fizeram pelo progresso humano e pela França, e que o aguardam no Panteão”, disse Macron na cerimônia desta quarta. Segundo a agência de notícias AFP, haverá um evento marcando a entrada de Badinter no Panteão —a data e os detalhes estão em discussão com sua família.
A “pantheonização” pode ser feita na forma de uma simples placa com o nome do falecido, de um cenotáfio —um monumento funerário que não contém o corpo— ou um enterro. Estão enterrados no Panteão, por exemplo, os escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo e a cientista Marie Curie.
“Robert Badinter sempre esteve ao lado do esclarecimento. Ele foi uma figura do século, uma consciência republicana, o espírito francês”, afirmou Macron no X, antigo Twitter, logo após a notícia da morte.
A família de Badinter havia pedido ao partido de ultradireita Reunião Nacional e ao partido de extrema-esquerda França Insubmissa para não participarem da homenagem. O primeiro concordou em não comparecer, mas o segundo enviou dois de seus deputados.
Um intelectual judeu, cujo pai morreu em um campo de concentração alemão, Badinter foi alvo de ódio da direita francesa, parte dele tingido de antissemitismo.
Em 1983, Badinter fez com que a Bolívia extraditasse Klaus Barbie, ex-chefe da polícia secreta dos nazistas, a Gestapo, para a França. Notório durante a ocupação alemã da França como o “açougueiro de Lyon”, Barbie foi levado a julgamento por crimes contra a humanidade e condenado à prisão perpétua em um caso emblemático que viu as vítimas do Holocausto testemunharem pela primeira vez no país.