O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou na noite desta quinta-feira (9) que a resposta militar de Israel em Gaza tem sido “exagerada” e disse estar buscando uma “pausa sustentada nos combates” para ajudar os civis palestinos.
“Eu acredito, como vocês sabem, que a conduta da resposta na Faixa de Gaza tem sido exagerada”, afirmou Biden a repórteres na Casa Branca. Ele acrescentou que tem pressionado por um acordo para normalizar as relações entre Arábia Saudita e Israel, aumentar a ajuda humanitária e fazer uma pausa temporária nos combates para permitir a libertação dos reféns feitos pelo Hamas.
“Estou pressionando muito agora para negociar esse cessar-fogo”, disse Biden. “Há muitas pessoas inocentes passando fome, muitas pessoas inocentes em apuros e morrendo, e isso precisa parar.”
As declarações são algumas das críticas públicas mais contundentes do líder americano ao governo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, até agora. Após os ataques iniciais de Israel, o presidente foi criticado por descrever a morte de palestinos inocentes como “o preço de travar uma guerra”. Agora, porém, o democrata tem enfrentado pressão crescente dentro de seu país para pressionar Tel Aviv a interromper os combates.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de esclarecimento sobre as declarações de Biden.
Israel iniciou sua ofensiva militar depois que ataques do Hamas no dia 7 de outubro mataram 1.200 pessoas e fizeram 253 reféns no sul de Israel, segundo Tel Aviv. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista, afirma que mais de 27.000 palestinos morreram em bombardeios, em grande parte crianças.
Até o momento, apenas um cessar-fogo, que durou uma semana, no final de novembro, foi alcançado.
Em comunicado divulgado na quarta-feira (7), a Arábia Saudita disse aos EUA que a condição para normalizar as relações com Israel é o reconhecimento de um Estado palestino independente nas fronteiras traçadas em 1967, com Jerusalém Oriental, e a interrupção dos ataques israelenses na Faixa de Gaza. No entanto, Bibi, como é chamado o premiê israelense, descarta essas possibilidades e segue com sua ofensiva contra o território.
Na quinta, forças israelenses bombardearam áreas de Rafah, cidade no sul de Gaza onde mais da metade da população do território palestino está abrigada, enquanto diplomatas tentavam salvar as negociações de cessar-fogo que Netanyahu rejeitou. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, por exemplo, concluiu nesta quinta uma viagem para tentar promover uma trégua e pediu a Israel para “proteger” os civis.
O novo ciclo de negociações no Cairo segue com a mediação do Egito e do Qatar e tem o objetivo de alcançar calma na Faixa de Gaza por várias semanas, além de trocar prisioneiros palestinos por reféns que estão sob poder do grupo terrorista. Uma fonte próxima à direção do Hamas afirmou que as negociações serão difíceis, mas que o grupo está aberto a conversas.
Rafah tem 1,3 milhão de pessoas, a maioria abrigada em barracas e cabanas construídas com lençóis, pedaços de metal e galhos.
Esta é a situação de Um Ahmed al Burai, que teme uma operação terrestre dos militares israelenses. “Se Rafah for atacada, haverá massacres e um genocídio. Não sei se conseguiremos fugir para o Egito”, afirmou a palestina de 59 anos. Antes de chegar a Rafah, ela passou por Khan Yunis e por Jirbet Al Adas.
Também na quinta, Washington advertiu que Rafah pode ser o cenário de um “desastre” humanitário e afirmou que não apoia uma operação “sem planejamento e sem reflexão” sobre os civis. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se declarou “alarmado” com a possibilidade de ataque, que, segundo ele, “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário”.
Na madrugada desta sexta-feira (9), várias testemunhas relataram bombardeios israelenses no centro e no sul de Gaza.
“Ouvimos o barulho de uma explosão enorme perto de nossa casa e encontramos duas crianças mortas na rua”, declarou Jaber Al Bardini, morador de Rafah, de 60 anos. “Se Israel executar um ataque [terrestre] contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir.”