A Ucrânia teve uma das noites mais agitadas desde que a Rússia retomou sua campanha de bombardeios de longo alcance do inverno europeu, na virada do ano. Houve ataques múltiplos e a vizinha Polônia teve de mobilizar caças para interceptar um míssil que quase caiu em seu território.
Ao fim, foram 64 mísseis e drones contados pelas Forças Armadas da Ucrânia nesta manhã de quarta (7). Segundo seu chefe, o general Valeri Zalujni, que teve a demissão pedida mas não consumada ainda pelo presidente Volodimir Zelenski, 44 deles foram abatidos pelas defesas aéreas.
Os que passaram, contudo, fizeram estragos. Em Kiev, o presidente disse que morreram ao menos duas pessoas, e bairros inteiros estão sem energia em meio a temperaturas declinantes, que devem chegar a zero grau na quinta (8) Em Mikolaiv (sul), outra pessoa morreu, e houve ataques a infraestrutura em Kharkiv (norte) e nas regiões de Lviv (oeste) e Dnipropetrovsk (leste).
A taxa de sucesso divulgada das defesa aéreas melhorou ante a dos ataques anteriores desta nova safra, quando os ucranianos só conseguiam derrubar metade dos mísseis. Zelenski anunciou que receberia um reforço do Ocidente, provavelmente sistemas Iris-T alemães, mas não há detalhes.
O que chamou atenção nesta onda foi o número de aviões russos envolvidos. Ao menos nove bombardeiros pesados Tu-95MS estiveram no ar ao mesmo tempo, além de vários bombardeiros mais leves Tu-22, em diferentes vetores de aproximação: houve lançamentos do leste, do mar Cáspio e do mar de Azov.
A movimentação tornou impossível a noite de sono para muitos, com os celulares piscando alertas constantes em quase todas as regiões ucranianas. Foram empregados mísseis de cruzeiro supersônicos, de difícil interceptação, e drones iranianos como batedores para saturar as defesas aéreas.
Um incidente raro aconteceu por volta das 5h30, quando um míssil parecia rumar diretamente para a Polônia, membro da Otan (aliança militar ocidental). Varsóvia acionou três caças F-16 para interceptá-lo, mas o armamento desviou a cerca de 20 km da fronteira, caindo na região de Lviv.
No ano passado, um míssil de defesa antiaérea ucraniano matou duas pessoas no país vizinho, gerando tensão acerca de escalada militar até que sua nacionalidade fosse determinada. Drones russos caíram com frequência na Romênia, outro membro da Otan, durante a onda de ataques a portos da Ucrânia no rio Danúbio.
Forças da aliança ocidental estão mobilizadas em todo o continente europeu para o maior exercício desde o fim da Guerra Fria, envolvendo de forma escalonada cerca de 90 mil militares e dezenas de aviões e outros materiais bélicos.
Além disso, a Rússia renovou sua atividade com bombardeiros que podem ser empregados em ataques nucleares. Na terça (6), voou dois supersônicos Tu-160 por dez horas no Ártico, repetindo a dose com dois subsônicos Tu-95MS nesta quarta.
Putin fala a jornalista ligado a Trump
Em um desenvolvimento político da guerra, o jornalista conservador americano Tucker Carlson, ex-Fox News e hoje à frente de um canal próprio na internet, entrevistou o presidente russo, Vladimir Putin. É a primeira vez que isso acontece desde a invasão da Ucrânia, que completa dois anos no dia 24.
Carlson não deu detalhes de quando a entrevista irá ao ar, e o Kremlin afirmou nesta quarta que o presidente resolveu falar porque o jornalista representa uma fatia da mídia não comprometida com os desígnios dos governos ocidentais.
O apresentador é conhecido por seus laços com Donald Trump, ex-presidente que busca voltar ao cargo na eleição deste ano que, por sua vez, é acusado reiteradamente de ter proximidade com Putin. A acusação de que os russos o favoreceram com ataques hackers contra a rival Hillary Clinton no pleito de 2016 nunca chegou a lugar algum na prática, mas segue no ar e é tratada como verdade nas hostes democratas do presidente Joe Biden.
Trump já disse que, se eleito, “acaba a guerra” imediatamente, o que só pode significar o fim do apoio à Ucrânia. Ele já dá mostras disso com a posição de seu partido no Congresso, bloqueando até aqui o pacote de ajuda de R$ 300 bilhões que Biden propôs para Kiev.
Suécia encerra apuração do Nord Stream
O governo sueco informou que encerrou a investigação sobre a explosão de 3 dos 4 ramos do gasoduto submarino russo-alemão Nord Stream 2, ocorrida em 2022. Não foram divulgados detalhes, mas que não haveria mais trabalho porque as descobertas estavam fora de sua área de jurisdição.
A Rússia se queixa de que nunca teve acesso a dados do inquérito. Estocolmo disse que as evidências levantadas seriam enviadas para a Alemanha, que conduz apuração própria, assim como a Dinamarca. O Kremlin afirmou que agora espera uma resposta de Berlim sobre o caso.
Os russos acusam o EUA e Reino Unido de terem sabotado o gasoduto, símbolo da dependência europeia do produto russo antes da guerra. Alguns aliados europeus apontaram o dedo para a Rússia, enquanto a mídia alemã fala em um comando ucraniano por trás do ataque.