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Menina de 9 anos libertada pelo Hamas se recusa a dizer ‘Gaza’ ou ‘sangue’ – 06/02/2024 – Mundo

Mais de dois meses depois de ter sido libertada de Gaza, Emily Hand já não fala em sussurros aterrorizados. Mas a menina israelo-irlandesa que foi uma das reféns mais jovens do Hamas ainda se recusa a nomear seus sequestradores ou o enclave palestino onde foi mantida.

Na casa temporária que ela compartilha com seu pai, Tom, um quadro branco apresenta seu léxico para o sofrimento: alimentos de que ela não gosta representam as memórias que a menina de 9 anos não quer ter.

A Faixa de Gaza é “a caixa”. Terroristas são “azeitonas”. Uma pessoa sequestrada é “queijo”, uma pessoa assassinada é “queijo cottage”. Sangue é “melancia”.

“Às vezes não me sinto bem em dizer essas palavras”, ela explicou calmamente em uma entrevista para a TV Kan de Israel.

Tom disse que Emily dorme em seu quarto, como precaução contra os pesadelos que ela sofre, nos quais ela sonha em escapar do apartamento em Gaza onde foi mantida por sete semanas e tentar correr pelos campos marcados pela guerra de volta para sua vila na fronteira.

Essa comunidade, o Kibutz Beeri, perdeu um décimo de seus moradores no ataque de 7 de outubro e no sequestro realizado por atiradores palestinos liderados pelo Hamas, que desencadeou uma guerra que já dura quase quatro meses.

Separada de Tom, Emily não tinha como saber que seu pai havia sobrevivido. Ao ver corpos no kibutz enquanto era levada para Gaza, ela se perguntava se ele estava entre eles ou se também havia sido sequestrado e estava sendo mantido em outro lugar, incomunicável.

Quando se reuniram durante uma trégua no final de novembro, Tom disse à TV Kan que seus sentimentos de dúvida e culpa foram “esmagados” instantaneamente quando Emily o olhou com alívio e disse: “Eu pensei que você estava morto. Eu pensei que você tivesse sido sequestrado”.

No início, ela quase não falava, disse Tom, por ter sido ameaçada por um sequestrador armado com uma faca para ficar em silêncio.

Embora a voz de Emily agora seja mais normal, ela segue Tom pela casa e exige que ele fique de guarda do lado de fora do banheiro enquanto ela toma banho, disse ele. Durante a entrevista para a TV Kan, ela brincava dentro de casa de patins e brincava com um cachorro.

“Emily se curou extremamente rápido… a resiliência das crianças”, disse Tom. “Ela imediatamente ficou um pouco mais madura, com certeza. E ouvi isso de muitos outros pais.”

No choque inicial de 7 de outubro, Tom recebeu um relatório falso de que Emily havia sido morta, e o paradeiro de seu corpo era desconhecido —apenas para ter seu luto revertido com a notícia oficial de que ela era uma refém. Sua ex-esposa Narkis, que havia ajudado a criar Emily depois que a mãe da menina morreu de doença, foi encontrada morta a tiros pelo Hamas.

“Para o resto de nós, a recuperação emocional é muito mais lenta”, disse Tom. “Estou bem, porque tenho um propósito.”

Israel afirma que 132 dos reféns de 7 de outubro ainda estão em Gaza, com seu destino em jogo enquanto mediadores do Catar e do Egito tentam garantir outro acordo de libertação. Entre as condições anteriormente estabelecidas pelo Hamas para libertar todos eles está o fim da guerra em Gaza, em vez de outra trégua, e que Israel liberte todos os milhares de palestinos detidos em suas prisões por motivos de segurança.

Autoridades israelenses acreditam que cerca de 30 dos reféns morreram em cativeiro. Chorando enquanto falava com a TV Kan, Tom instou outros parentes atormentados pela preocupação a “manterem-se fortes, manterem-se positivos”.

“Eu sei que é muito, muito difícil, mas isso é uma prova de que é possível. Pode voltar”, disse ele. “Eu havia perdido toda a esperança, realmente, e pode acontecer.”

Fonte: Folha de São Paulo

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