Forças russas destruíram pela primeira vez na Guerra da Ucrânia um poderoso tanque britânico Challenger-2, do qual 14 unidades haviam sido doadas pelo Reino Unido parar ajudar Kiev em sua contraofensiva iniciada em junho. O modelo nunca havia sido explodido por fogo inimigo.
Vídeo gravado presumivelmente por soldados ucranianos há poucos dias e validado nesta terça (5) por analistas mostra um desses blindados em chamas numa estrada perto de Robotine, vilarejo retomado pela Ucrânia na semana passada em Zaporíjia (sul), foco principal de suas ações neste momento.
É possível ver com clareza a torre e o canhão de 120 mm do grande tanque, que pesa 64 toneladas sem proteção adicional e é considerado um dos melhores do mundo em termos de precisão de tiros de longa distância.
É uma perda simbólica, dado que o Challenger-2 vinha sendo usado de forma pontual no conflito, não só pelos pequenos números, mas pelo fato de ele ser considerado pouco ágil —desenvolve no máximo 59 km/h, ante 72 km/h do Leopard-2A6, versão mais avançada do modelo alemão em ação na Ucrânia.
O Challenger-2 começou a ser operado pelos britânicos em 1994, e foi empregado na Bósnia, em Kosovo e no Iraque, onde sofreu sua única baixa até aqui, mas para fogo amigo. Foram feitos 386 para o Exército britânico, dos quais 213 estão oficialmente ativos —embora relatório ao Parlamento tenha indicado que só 157 estão em condições de combate.
Ele também foi comprado, apenas 18 unidades, por Omã. É uma arma cara: cada um custa cerca de R$ 25 milhões. Segundo o site de monitoramento de perdas militares Oryx, dos 987 tanques que tinha no pré-guerra, Kiev perdeu 640, maioria modelos soviéticos como o T-64 que também é visto em chamas no vídeo sobre o Challenger-2.
Desde o início do conflito, a Polônia doou cerca de 240 tanques soviéticos T-72, Londres enviou os 14 Challenger-2 e alguns países europeus, um número prometido de quase 100 antigos Leopard-1 e talvez 80 versões diversas do Leopard-2. Não se sabe quantos blindados de fato chegaram, e o Oryx contou abates confirmados de 16 Leopard-2, 9 deles do modelo mais avançado.
Os EUA também prometeram 31 tanques M1A1 Abrams. Eles foram liberados para uso e estão sendo entregues para ajustes finais na Alemanha. Dificilmente verão ação de forma decisiva nas operações ucranianas antes do inverno do Hemisfério Norte, no fim do ano.
O emprego de armamento ocidental é um dos nós da contraofensiva, que enfrenta diversas dificuldades, apesar de boas notícias pontuais na frente de Zaporíjia, onde soldados de destacamentos avançados já lidam com a segunda e a terceira linhas de defesa russas —mas não há sinal de um avanço com blindados, dadas as extensas trincheiras e fortificações antitanque no local.
Além disso, relatos dos combates dizem que o custo dessas infiltrações é altíssimo, com até 75% de algumas unidades sendo perdidas, com seus soldados mortos ou feridos. “A contraofensiva é um fracasso. Desde seu começo, o inimigo perdeu 66 mil soldados e 7.600 armamentos”, afirmou nesta terça, de forma impossível de comprovar, o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu.
O presidente Volodimir Zelenski já disse que o avanço é mais lento do que o desejado porque faltaram armas pesadas ocidentais, particularmente blindados. O fato de o Challenger-2 ter sido destruído em Robotine sugere que Kiev está concentrando o uso delas no ponto mais promissor na visão de seus comandantes.
A crise ajudou a derrubar o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov , que foi demitido por Zelenski no domingo (3) após também lidar com denúncias de corrupção e desvios de verbas nas Forças Armadas. Reznikov não foi acusado pessoalmente e, especula-se, pode ser nomeado embaixador no mesmo Reino Unido que forneceu os Challenger-2.
A ajuda militar global à Ucrânia chegou, segundo a chancelaria em Kiev, a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. Isso dá cerca de 23 vezes o orçamento militar ordinário do país no ano anterior ao conflito, incluindo tudo —pessoal, investimentos, custeio. Os EUA respondem por cerca de 70% do apoio.
Do lado russo, que sofreu segundo especialistas o equivalente à perda de 2/3 de sua frota de tanques ativos antes da guerra, mas que tem vastas reservas de material mais obsoleto, a especulação do momento é acerca do provável apoio da Coreia do Norte ao esforço na Ucrânia, fornecendo munição pesada.
O Kremlin não quis comentar nesta terça os relatos na imprensa americana de que Vladimir Putin irá encontrar-se este mês com o ditador Kim Jong-un, mas os países estão em clara aproximação militar desde que Choigu foi a Pyongyang para a comemoração dos 70 anos do armistício da Guerra da Coreia.
Na segunda (4), ele confirmou que estuda exercícios conjuntos com os norte-coreanos, que devem incluir os aliados de ambos da China, em oposição à crescente movimentação bélica dos Estados Unidos com a Coreia do Sul e o Japão na região. Mas não foi questionado pela agência estatal Tass acerca de munição. Até aqui, oficialmente apenas o Irã fornece material bélico à Rússia na guerra, no caso drones kamikaze.
Os aparelhos têm sido usados de forma extensiva, como nos ataques de segunda a um porto ucraniano no Danúbio. Já nesta terça, foi a vez de a Ucrânia lançar aviões-robôs contra quatro regiões russas. Três aparelhos rumavam a Moscou e foram abatidos, com os destroços de um deles causou danos não especificados no distrito de Istra, a 60 km da capital.