O secretário de Estados dos Estados Unidos, Antony Blinken, começou nesta segunda-feira (5) mais um giro diplomático pelo Oriente Médio numa tentativa de estabelecer uma trégua entre Israel e o Hamas. Trata-se da quinta viagem do diplomata à região desde a eclosão do conflito, e a primeira desde que três militares de seu país foram mortos na Jordânia, o que motivou retaliações das forças americanas contra alvos ligados ao Irã.
Antes de viajar, Blinken voltou a defender a necessidade de “abordar urgentemente as necessidades humanitárias na Faixa de Gaza“, onde várias organizações vêm alertando sobre “impactos devastadores” provocados pelos quase quatro meses de guerra. “A situação é indescritível”, disse Said Hamuda, palestino que fugiu de sua casa para Rafah, no sul do território e próximo da fronteira com o Egito.
Rafah, uma “panela de pressão do desespero” segundo a ONU, é atualmente o lar de mais de metade dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza —a maior parte da população foi forçada a se deslocar devido aos ataques de Israel.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que pelo menos 128 pessoas morreram nas últimas 24 horas em ataques israelenses ao território. A facção relatou “ataques aéreos e de artilharia” ao redor de três hospitais em Khan Yunis, a principal cidade do sul da Faixa, cercados por forças israelenses.
Israel, como de praxe, disse ter feito “ataques direcionados” nas zonas centrais e do norte da Faixa, e que matou “dezenas de terroristas que armavam emboscadas” para os soldados em Khan Yunis.
Blinken pretende abordar uma proposta de trégua elaborada em janeiro pelas autoridades de Estados Unidos, Israel, Egito e Catar, reunidas em Paris. A pressão diplomática tornou-se mais urgente com o aumento dos ataques de grupos apoiados pelo Irã em solidariedade com o Hamas, o que levou a contra-ataques dos Estados Unidos no Iraque, na Síria e no Iêmen.
A trégua proposta imporia uma pausa nos combates durante seis semanas, permitindo ao Hamas libertar reféns em troca de prisioneiros palestinos, segundo uma fonte do grupo islamista.
Os responsáveis do movimento palestino, no entanto, indicaram que ainda não existe acordo e algumas autoridades israelenses se opuseram a fazer concessões.
A guerra eclodiu após os ataques sem precedentes do Hamas em 7 de outubro contra Israel, que deixaram cerca de 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em números oficiais israelenses. Os terroristas também sequestraram cerca de 250 reféns e, segundo Israel, 132 permanecem em Gaza, incluindo pelo menos 27 que foram dados como mortos.
Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva militar que matou pelo menos 27.365 pessoas em Gaza, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do território.
Os habitantes de Gaza enfrentam condições humanitárias extremas. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) afirmou na rede social X que “o acesso à água potável e ao saneamento é muito limitado em meio a bombardeios incessantes”.
A agência está no meio de uma polêmica após acusações de que 12 de seus funcionários participaram dos ataques de 7 de outubro. Muitos países, incluindo os Estados Unidos, suspenderam o seu financiamento após essa denúncia.
Mas o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, alertou no domingo que o corte da ajuda à UNRWA ameaça a existência de uma agência que fornece “ajuda vital a mais de 1,1 milhão de pessoas em Gaza que enfrentam fome e doenças catastróficas”.
Antes de viajar para a região, Blinken anunciou que a situação humanitária seria um dos seus focos. “Abordar urgentemente as necessidades humanitárias de Gaza e promover a estabilidade no Oriente Médio são prioridades que compartilhamos com a Arábia Saudita”, disse Blinken depois de falar com o ministro das Relações Exteriores saudita, Faisal Bin Farhan.
O ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, disse ao jornal americano Wall Street Journal que Washington não demonstrou apoio suficiente ao seu país.
“Em vez de dar o seu total apoio, [o presidente americano Joe] Biden está ocupado dando ajuda humanitária e combustível [a Gaza], que vão para o Hamas”, disse ele ao jornal no domingo.
Ben Gvir fez estas declarações depois de os Estados Unidos terem imposto sanções contra quatro colonos israelenses devido ao aumento da violência contra civis palestinos na Cisjordânia ocupada.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também está sob pressão devido à situação dos reféns. Centenas de pessoas protestaram neste fim de semana em Tel Aviv para exigir eleições antecipadas.