O papa Francisco, 86, encerrou nesta segunda-feira (4) sua visita à Mongólia marcada por recados à vizinha China, país que não mantém relações diplomáticas com o Vaticano.
O saldo da viagem parece positivo às tentativas de aproximação. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que Pequim adotará “atitudes positivas” para a melhora das relações com o Vaticano. O comunicado foi divulgado após uma série de acenos do papa ao regime chinês.
Francisco disse neste domingo (3) que a China tem um “povo nobre” e pediu aos católicos do gigante asiático que sejam “bons cristãos e bons cidadãos”. Os comentários não estavam previstos no discurso oficial do papa e, segundo analistas, parecem uma tentativa de aliviar as tensões com o regime chinês.
A relação entre Pequim e o Vaticano havia se deteriorado nos últimos meses após o regime chinês romper um acordo e nomear o bispo de Xangai sem o aval de Francisco. A ação desrespeitou um pacto que, firmado em 2018 e renovado em 2022, determinou que todas as indicações de bispos e padres no país asiático têm de ser reconhecidas pelo papa.
Antes, no sábado (2), Francisco já havia feito recados indiretos à China. O pontífice disse que os governos não devem temer o trabalho da Igreja Católica porque a instituição não tem uma agenda política. “[A Igreja] é sustentada pelo poder silencioso da graça de Deus e por uma mensagem de misericórdia e verdade, que busca promover o bem”, afirmou em discurso a bispos, padres e trabalhadores pastorais.
A Constituição da China prevê a liberdade religiosa, mas, nos últimos anos, o regime chinês tem seguido uma política de “sinicização” da religião, tentando erradicar as influências estrangeiras e impor a obediência ao Partido Comunista. Pequim desconfia de organizações, especialmente religiosas, que acredita ameaça sua autoridade e não mantém relações diplomáticas com a Santa Sé.
Oficialmente, a viagem teve o objetivo de expressar apoio à pequena comunidade católica local. A Mongólia tem maioria budista e apenas 1.450 católicos entre uma população de mais de 3,3 milhões de pessoas. A visita, porém, foi considerada crucial para as relações do Vaticano com Pequim e Moscou, capitais para as quais o papa não foi convidado desde o início da Guerra da Ucrânia.
O papa é crítico da Guerra da Ucrânia, em curso no Leste Europeu desde fevereiro de 2022. A China é a principal aliada da Rússia e nunca condenou publicamente a ofensiva de Vladimir Putin contra o vizinho. Já a Mongólia faz fronteira e mantém relações comerciais com os dois países.
Durante o voo de nove horas à nação asiática, Francisco enviou mensagens com “orações e bons desejos” ao líder chinês, Xi Jinping. O ato, de acordo com o Vaticano, segue a tradição de agradecer os países sobrevoados pelo avião papal. “Assegurando as minhas orações pelo bem-estar da nação, invoco sobre você todas as bênçãos divinas de unidade e paz”, escreveu o pontífice ao dirigente.