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Saiba como são as redes de túneis abaixo da Faixa de Gaza – 22/01/2024 – Mundo

Em um complexo subterrâneo abaixo de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, cinco celas que o Exército de Israel afirma terem mantido reféns foram claramente construídas há muito tempo.

Houve até alguma atenção à decoração: as paredes azulejadas de uma pequena cozinha, repleta de restos de comida e pratos sujos, foram ornamentadas com um motivo pitoresco, de bules e xícaras de chá.

O Exército disse que cerca de 20 reféns israelenses foram mantidos no complexo em diferentes momentos, com base em informações coletadas pelos cativos, além de evidências como DNA. Alguns puderam sair junto dos mais de cem reféns libertados durante uma trégua de uma semana no final de novembro, enquanto outros, incluindo pessoas mais velhas, foram posteriormente levados a outras localidades em Gaza, segundo o Exército.

Não é possível confirmar de forma independente a versão israelense sobre o complexo, mas detalhes fornecidos à mídia israelense por um dos reféns —libertado em novembro e, segundo Israel, mantido no complexo de Khan Yunis— se alinham com algumas dessas alegações.

Cerca de 240 reféns foram capturados durante o ataque do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas, de acordo com autoridades israelenses. Mais de 25 mil palestinos foram mortos até agora, a maioria civis, segundo autoridades de saúde palestinas ligadas ao Hamas.

Um jornalista do The New York Times desceu pelo labirinto escuro que levava ao complexo sob Khan Younis, escoltado por soldados e autoridades militares israelenses para mostrar o que eles afirmam ser as condições em que os reféns estavam detidos.

A câmara na entrada do corredor que levava às celas estava coberta com carpete verde, simulando grama falsa, e cheia de entulho.

Entre um amontoado de cobertores com estampas florais e garrafas plásticas, havia vários tubos vazios rotulados como RPG-7VR, um tipo de granada propulsada por foguete, usando a insígnia da ala militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam. Num canto escuro, havia quatro ventiladores de chão, um pacote pela metade de fraldas descartáveis e uma maleta do Crescente Vermelho Palestino contendo um pacote de luvas de látex e alguns curativos lacrados.

A visita guiada ao complexo ocorreu enquanto Israel, após mais de cem dias de combates em Gaza, parece cada vez mais dividido entre o objetivo de desmantelar o Hamas e libertar os cerca de 130 reféns restantes, o que provavelmente exigirá um acordo diplomático envolvendo um cessar-fogo.

Pelo menos 25 dos reféns já foram declarados mortos, e muitos israelenses temem que o tempo esteja se esgotando para o restante. A ofensiva militar diminuiu, em partes pela amplitude e sofisticação da vasta rede de túneis do Hamas, se estendendo por centenas de milhas, segundo a inteligência israelense.

Apenas em Khan Yunis, o Exército estima que o Hamas cavou pelo menos 160 quilômetros de túneis em vários níveis, criando um complexo de vários andares.

“Estamos lutando em Khan Yunis acima e abaixo do solo”, disse Daniel Hagari, porta-voz-chefe do exército israelense, que liderou o tour pelo complexo subterrâneo. “Esse tipo de guerra é diferente de qualquer outro campo de batalha moderno em qualquer lugar do mundo.”

O crescente número de mortos em Gaza aumentou a pressão internacional sobre Israel para encerrar a guerra. Acima do solo, grande parte de Gaza está em ruínas.

“Israel não busca destruição”, disse Hagari. “Esta guerra é uma tragédia.” Mas não há como destruir túneis construídos sob áreas civis sem danificar as estruturas acima, disse ele, acrescentando: “O Hamas sabe disso.”

O New York Times e outros jornalistas aceitaram ser escoltados para visitar o complexo subterrâneo e obter um raro acesso em tempo de guerra.

Após uma jornada de meia hora em um veículo blindado, os jornalistas foram levados a uma entrada no nível do solo com uma porta de metal aberta ao lado de um prédio de três andares que descia para uma escada que dava acesso a um labirinto de túneis que se ramificavam em direções diferentes. O bairro, no leste de Khan Younis, tinha sido evacuado.

A entrada do túnel, localizada sob a residência de um membro do Hamas, estava rodeada por explosivos, de acordo com o Exército israelense. À medida que os soldados da 98ª Divisão Paraquedista avançavam ao longo da rota subterrânea, encontraram mais explosivos e entraram em combate com membros do Hamas,, que foram mortos, disse o Exército. No momento em que os soldados chegaram à câmara forrada de carpete e às celas, os reféns já haviam sido transferidos para outro local, disse o Exército.

O complexo ficava a cerca de meia milha no labirinto de túneis, revestido com cabos de eletricidade e comunicação, e cerca de seis andares abaixo da superfície. Para alcançá-lo, era preciso andar em fila única pela escuridão total e descer longas escadas esculpidas na terra. O ar era denso e úmido.

Na câmara abandonada, equipada com luminárias, o Exército israelense disse que os soldados encontraram dois desenhos feitos por uma criança. O Exército mostrou fotografias dos desenhos —ambos de uma casa em meio a colinas com um sol e nuvens no céu— que, segundo eles, foram feitos por Emilia Aloni, 5, garota israelense que foi sequestrada com sua mãe, Danielle Aloni, de 44 anos, em 7 de outubro, do Kibbutz Nir Oz. Após quase sete semanas de cativeiro, os Alonis foram libertados em um primeiro grupo de 13 reféns, todos mulheres e crianças, sob o acordo de trégua temporária em novembro.

Em entrevistas a canais de televisão israelenses após a libertação dos reféns, Danielle Aloni exibiu imagens que ela disse terem sido desenhadas por sua filha durante o cativeiro, que se assemelhavam às que o Exército israelense disse ter encontrado no complexo.

Nas entrevistas televisivas, Aloni disse que ela e sua filha foram levadas para um túnel pouco depois de chegar a Gaza e depois caminharam por horas em uma espécie de “cidade subterrânea”. Eventualmente, ela disse, chegaram a uma espécie de “caverna” onde havia cerca de uma dúzia de outros reféns, incluindo pessoas mais velhas feridas e um adolescente.

Em um documento divulgado no domingo pelo Hamas, no qual forneceu sua própria versão, o grupo disse que “tratou de maneira positiva e gentil todos os civis que foram mantidos em Gaza”.

Muitos dos reféns libertados afirmam ter recebido pouca comida e água, tratamento médico inadequado, e terem sido mantidos em condições difíceis.

Emergindo de volta à luz do sol duas horas após entrar no túnel, o silêncio subterrâneo foi substituído para os repórteres que acompanhavam o Exército pelos sons da guerra. Um drone zunia no céu. Estalos e explosões agudas levantavam colunas de fumaça.

Dentro da casa que Israel diz pertencer ao membro do Hamas, uma escada de mármore sugeria um certo nível de sofisticação. Cortinas de cobre e ouro ainda pendiam das janelas estouradas de um quarto no andar inferior, e grande parte de uma parede externa estava destruída. Nenhum prédio nas proximidades parecia habitável.

Os túneis e o complexo abaixo do bairro foram destruídos.

Fonte: Folha de São Paulo

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