As jornalistas do Irã Niloufar Hamedi, 31, e Elaheh Mohammadi, 36, acusadas de atentar contra a segurança nacional na cobertura do caso de Mahsa Amini —jovem morta em 2022 pela chamada polícia moral— foram soltas da prisão neste domingo (14), mas não ficaram livres da perseguição do regime.
As profissionais foram mais uma vez processadas nesta segunda (15), menos 24 horas após ganharem a liberdade, agora por aparecem nas redes sociais com os cabelos soltos e sem usar o hijab, o véu islâmico.
“Depois que imagens das rés sem hijab foram divulgadas online, um novo processo foi aberto contra elas”, disse a agência de notícias do Judiciário iraniano Mizan, referindo-se a um vídeo amplamente compartilhado que mostra as mulheres celebrando a libertação com suas famílias. Detalhes do novo processo não foram divulgados.
Hamedi e Mohammadi haviam sido condenadas a 13 e 12 anos de prisão, respectivamente, e foram soltas após o pagamento de fiança. As jornalistas foram presas logo após o início dos protestos em todo o país desencadeados pela morte da jovem Amini. Elas foram acusadas de conluio com o governo dos Estados Unidos, além de atentar contra a segurança nacional.
Mahsa Amini morreu sob custódia, três dias após ter sido detida pela polícia moral do Irã em 13 de setembro de 2022. Ela foi presa também por supostamente violar regras que exigem que as mulheres cubram os cabelos com o hijab. O caso desencadeou uma onda de protestos no país, e centenas de pessoas foram mortas e feridas durante manifestações nos meses seguintes.
O mistério em torno da morte de Amini conta com versões conflitantes. Um médico legista do regime iraniano atribuiu o óbito a condições médicas pré-existentes, enquanto um especialista em direitos humanos da ONU disse que as provas estabelecem que Amini morreu após ser espancada pela polícia moral.
Niloufar Hamedi trabalhava para o jornal Shargh e noticiou a morte de Amini. Ela fotografou o pai e a avó da jovem se abraçando após descobrirem que ela havia morrido e postou uma imagem com a legenda “o vestido preto de luto se tornou nossa bandeira nacional”.
Já Elaheh Mohammadi, repórter do Ham-Mihan, escreveu que centenas de pessoas gritavam “mulher, vida, liberdade” durante o funeral de Amini, em Saghez, sua cidade natal.
O fato de Amini ser curda acrescentou às manifestações a dimensão da violência étnica no Irã; há um número desproporcional de curdos executados pelo regime todos os anos. Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio ao regime e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, segundo imagens publicadas nas redes sociais.