Cerca de 20 militares fardados descem de um ônibus, conversam entre si e se dirigem ao pequeno grupo de repórteres que acompanha a ação, alguns vestidos com coletes à prova de bala: “Vamos dar a volta neste quarteirão buscando atitudes suspeitas”, anuncia um deles.
A essa altura, os vizinhos no entorno já tinham se debruçado sobre suas janelas para ver o rebuliço na rua que dez minutos antes estava tranquila na manhã desta sexta-feira (12), num bairro de classe baixa próximo ao centro de Guayaquil, maior cidade do Equador cuja área metropolitana concentra um terço das mortes violentas do país.
Logo na esquina há uma viela conhecida pela venda de drogas. A equipe não entrará ali porque não tem mandados de prisão, afirma o porta-voz das Forças Armadas, o tenente Marcelo Gutierrez, ao ser questionado. Não é possível ver seu rosto —ele e os demais militares vestem roupas que mantêm apenas os olhos de fora, por segurança.
“Vou pedir um favor. Nesta área, provavelmente encontremos pessoas que têm problemas com drogas, e talvez alguns sejam um pouco malcriados. Se isso acontecer, teremos que usar de mais força progressivamente, e aí vamos pedir que não gravem. Porque vocês sabem que os direitos humanos vão dizer que nós somos os maus”, adverte ele.
O Equador está em situação de “conflito armado interno” desde terça-feira (9), quando uma onda de ataques a bombas e sequestros de policiais e agentes penitenciários coordenados por organizações criminosas espalhou pânico pelo país. O caos levou o presidente Daniel Noboa a classificar diversas milícias de terroristas e dar mais poder aos militares para combatê-las.
Os fardados e blindados não têm sido vistos pelas ruas da cidade como no dia dos atentados, mas têm feito operações pontuais nas estradas e em “zonas quentes”, consideradas mais perigosas. Ao menos 329 pessoas foram presas e cinco foram mortas em operações pelo país até agora, segundo balanço divulgado na noite de quarta (10).
Nesta sexta (12), diante de pedidos de diversos meios de comunicação, as forças de segurança coordenaram uma ação em dois locais desse bairro de Guayaquil para revistar pessoas, carros, motos e ônibus.
Diante das câmeras, a equipe parou algumas pessoas para inspecionar bolsos e mochilas, todos homens. Um deles, aparentemente usuário de drogas, retirou os sapatos e desbloqueou a tela do celular para que um oficial olhasse suas mensagens, sendo liberado segundos depois.
A busca por tatuagens de facções e inspeções em telefones têm feito parte das revistas, segundo Gutierrez —o presidente Noboa classificou 22 desses grupos criminosos locais como terroristas, convertendo-os em “alvos militares”.
“São operações de impacto”, diz o tenente, admitindo que esse tipo de ação não serve para encontrar armas pesadas ou grandes quantidades de drogas, e sim para que a população “sinta a segurança de que pode trabalhar com tranquilidade”. “Desde que estamos nas ruas, os criminosos se esconderam.”
“Como podem notar, temos muita aceitação pelos moradores”, acrescenta o tenente, pouco depois de um grupo aplaudir a passagem dos militares. Os recados de apoio não são poucos, com diversos moradores levando água e marmitas aos soldados. “Nos juntamos na rua para entregar [os mantimentos]”, conta uma comerciante que leva um fardo de refrigerantes e preferiu não se identificar.
Um dos únicos que reclama é Manuel, que também não quis dizer o sobrenome. Ele critica a baixa frequência das operações: “Quando dá vontade é que eles fazem isso. Mas é todos os dias que nós, cidadãos, queremos que façam o que estão fazendo agora. O bandido passa em frente aos olhos deles e eles não se dão conta”, afirma depois de ter sido revistado.
Depois de duas horas circulando pelas ruas da região, os militares sobem de volta no ônibus e vão embora.