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China parece impotente diante de seus problemas econômicos – 01/09/2023 – Igor Patrick

Em março, quando o relatório do então premiê chinês Li Keqiang estabeleceu uma meta de crescimento de 5% do PIB para 2023, analistas tiveram poucos motivos para questionar o número. A base de comparação com um 2022 desastroso devido às políticas de controle da pandemia e a animação do mercado com a reabertura do país no início do ano indicavam que a estatística era conservadora.

Conforme dezembro se aproxima, porém, economistas voltam às suas planilhas para rever previsões.

Os dados macroeconômicos de agosto mostraram que o país lida com alta da inflação. Chineses estão menos propensos a gastar, contrariando as tendências de “consumo de vingança” observadas em várias nações pós-reabertura da Covid, e o desemprego entre jovens está tão alto que o governo interrompeu a divulgação dos dados que medem a atividade fabril, porque eles se mostram vacilantes mês após mês.

Frente a sinais tão desanimadores, investidores pedem cada vez mais estímulos estatais para reaquecer o consumo. É uma expectativa ingênua e improvável: há motivos estruturais para a desaceleração que não vão desaparecer mesmo que Pequim abra a torneira e injete mais dinheiro na economia.

Alguns são mais difíceis de resolver. O fim do bônus demográfico e o rápido envelhecimento populacional, frutos da melhora nas condições de vida e de mudanças sociais pós-política do filho único, são alguns deles. A força de trabalho encolheu, e as pessoas não querem ter filhos. Uma canetada não solucionará.

No setor imobiliário, responsável durante anos por quase 25% do PIB chinês, as dificuldades enfrentadas por construtoras e incorporadoras como a Evergrande indicam que a bolha está próxima de estourar.

Subsídios e empréstimos para empresas do ramo alavancaram a urbanização, mas também garantiram que negócios menos eficientes continuassem ativos, para não falar da alta especulação imobiliária promovida por quem via na compra de apartamentos e de casas um investimento seguro.

Há ainda um problema generalizado de confiança. Com repressões arbitrárias em setores de tecnologia, por exemplo, estrangeiros estão mais receosos sobre o quão vantajoso é investir na China. Xi Jinping tampouco dá sinais de que recuará nesse front: se há uma certeza desde que ele assumiu o poder, é a de que o líder chinês está disposto a sacrificar algum crescimento em nome da segurança nacional.

A percepção interna no Partido Comunista é, portanto, a de que estímulos econômicos ostensivos poderiam até atrasar, mas não evitariam uma queda nos indicadores. Em alguns casos, poderiam até aprofundar problemas para os quais só reformas muito abrangentes seriam suficientes.

O espaço fiscal para tais estímulos também é bastante limitado. O endividamento provincial aumentou significativamente durante o combate à Covid, quando os líderes locais eram instados a fazer o impossível para impedir a circulação do vírus. Assim, a China encerrou 2022 com endividamento de 295% de seu PIB.

Em um cenário tão pessimista, legisladores correm para fechar este ano dentro do esperado, mas só têm conseguido implementar incentivos pontuais. Em julho, eles anunciaram medidas para facilitar a concessão de empréstimos para a compra de carros e o financiamento de casas para jovens profissionais, além de incentivos para a fabricação de bens de consumo duráveis e cortes marginais na taxa de juros.

A economia chinesa parece estar perdendo parte do pragmatismo e da prontidão para resolver os seus problemas, uma característica que por décadas definiu seu magistral crescimento. Sem reformas estruturais, o país arrisca se tornar um novo Japão: velho, estagnado e talvez não tão rico.


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Fonte: Folha de São Paulo

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