Um dia após o furacão Idalia provocar destruição na Flórida, várias cidades do estado continuavam com áreas alagadas e mais de 310 mil casas ainda estavam sem energia elétrica nesta quinta-feira (31). O fenômeno, rebaixado a tempestade tropical, avança pela costa sudeste dos Estados Unidos.
Embora as autoridades não tenham relatado mortes, o governador da Flórida, Ron DeSantis, disse que a situação permanece crítica. Equipes de resgate continuam nas ruas, mas o governo admite que o socorro pode demorar em algumas regiões devido a bloqueios causados por quedas de árvores e inundações.
O furacão Idalia atingiu a Flórida nesta quarta (30), com ventos de até 200 km/h. Em alguns pontos a água chegou a subir até cinco metros, deixando casas submersas, segundo o Centro Nacional de Furacões.
Horas depois, o fenômeno perdeu força, mas os ventos de até 100 km/h ainda provocaram estragos nos estados da Geórgia e da Carolina do Sul —neste segundo, ainda havia “muitos pontos” de alagamento na cidade de Charleston, segundo as autoridades, que não especificaram exatamente quantos.
O governo da Flórida começou a avaliar nesta quinta os danos provocados pelo furacão. Em Perry, uma das cidades mais afetadas, dezenas de árvores foram arrancadas pelos ventos. Uma delas caiu sobre a casa de John Kallschmidt, 76, que chamou a experiência de “aterrorizante”. Em Steinhatchee, cidade de mil habitantes, a rua principal ficou alagada e parecia a extensão de um rio próximo.
Na área de Tampa Bay, que tem mais de três milhões de moradores, as ruas também ficaram inundadas e alguns moradores foram obrigados a utilizar embarcações em seus deslocamentos. Mais de 1.000 integrantes de equipes de emergência foram mobilizados pelas autoridades federais, após a Casa Branca pedir uma vigilância reforçada.
As autoridades esperam que a situação melhore ao longo desta quinta-feira. Segundo as projeções, a tempestade vai concluir seu percurso no Atlântico nesta quinta-feira.
O Idalia chega aos EUA pouco depois de a tempestade tropical Hilary provocar enchentes e deslizamentos na Califórnia e em Nevada. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica prevê uma temporada de furacões, que vai de junho a novembro, mais agitada que o normal neste ano.
A piora é atribuída às temperaturas recordes do Atlântico. Quanto mais quente a água e o ar, mais força um furacão ganha. Neste ano, há risco de ocorrência de 6 a 11 furacões só na Costa Leste, de acordo com autoridades meteorológicas dos EUA. No ano passado, a Flórida já tinha sido atingida pelo que ainda é considerado o furacão mais letal registrado no estado. O Ian deixou 150 mortos, e DeSantis foi criticado por não ter disparado alertas de esvaziamento das casas a tempo.
Os desastres climáticos também têm um efeito econômico, ao aumentar os custos de seguradoras e, consequentemente, os valores das apólices residenciais. De acordo com o Instituto de Informações sobre Seguros, seis empresas do segmento ficaram insolventes, sem recursos para quitar dívidas e cumprir obrigações, na Flórida no ano passado, e ao menos 12 deixaram o estado ou colocaram uma moratória na emissão de novas apólices.
O valor anual médio, por sua vez, chegou a US$ 4.200 (mais de R$ 20 mil), o triplo do nacional.
O Idalia é um teste crucial para DeSantis, que disputa a indicação republicana para a vaga do partido na corrida pela Presidência americana no ano que vem. Em segundo lugar nas pesquisas, bem atrás de Donald Trump, ele ainda não conseguiu deslanchar. Uma boa resposta ao fenômeno em seu estado pode ajudá-lo. Por outro lado, se sua gestão da crise for mal avaliada, pode ser a pá de cal na candidatura.
DeSantis, que estava em campanha em Iowa, cancelou eventos e retornou ao estado para coordenar a preparação para o furacão. Apesar da sequência de desastres climáticos associados ao aquecimento global, o governador da Flórida assinou uma lei neste ano que impede autoridades estaduais e locais de usarem como critério o chamado ESG ao escolher prestadores de serviços e investimentos.
O presidente americano Joe Biden disse à imprensa que “ninguém pode negar o impacto da crise climática”. “Basta olhar ao nosso redor”, afirmou, em referência às inundações históricas ou aos incêndios recentes devastadores no Havaí e no Canadá.