A China nomeou o ex-comandante da Marinha, Dong Jun, como novo ministro da Defesa nesta sexta-feira (29), substituindo o titular anterior, general Li Shangfu, demitido sem explicações e destituído do cargo de conselheiro de Estado em outubro.
Havia consenso entre analistas que Li era investigado por corrupção. Ele chefiava o departamento responsável pela aquisição e pesquisa de equipamentos antes de assumir o cargo de defesa, em março, e não é visto em público desde 25 de agosto, semanas antes de sua demissão.
A nomeação do novo ministro ocorre em meio ao fortalecimento militar chinês promovido por Xi Jinping como parte de seu esforço para tornar a China uma potência mundial dominante em meio a movimentos cada vez mais assertivos sobre a vizinhança asiática —sobretudo em relação a Taiwan, ilha considerada uma província rebelde por Pequim.
O papel do ministro da Defesa da China é ser a face pública militar do país em seu relacionamento com a mídia e com as outras Forças Armadas.
Um elemento crucial de seu trabalho é se relacionar com o Exército dos Estados Unidos para reduzir o risco de conflito entre as duas potências em relação a Taiwan e ao mar do Sul da China, dois pontos de tensão com os quais Dong, 62, está familiarizado.
Antes de se tornar chefe da Marinha do Exército de Libertação do Povo e ser promovido a general em 2021, ele foi vice-comandante da Frota do Mar Oriental, a espinha dorsal do que é agora o Comando do Teatro Oriental, a principal força responsável no embate por Taiwan.
Ele também serviu como vice-comandante do Comando do Teatro Sul, que opera no mar do Sul da China, a maior parte do qual é reivindicada pela China ao mesmo tempo que por vizinhos da região, como Filipinas, Vietnã e Indonésia, entre outros.
“Dong estaria familiarizado com a gestão de encontros próximos entre militares chineses e americanos. Isso é útil quando ele precisar gerenciar crises entre ambos os militares”, disse Li Mingjiang, estudioso de relações internacionais na Escola de Estudos Internacionais Rajaratnam, em Cingapura.
Wen-Ti Sung, cientista político e pesquisador não residente no Global China Hub do Conselho Atlântico, disse que a escolha de Dong pode ser um sinal de que expurgos estão em andamento na Força de Foguetes e no Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos.
Os dois ministros da Defesa anteriores, que vieram dessas duas forças, desapareceram da vida pública desde então.
Outro sinal de que os expurgos no Exército são mais amplos, nove altos funcionários militares foram removidos do principal órgão legislativo da China, segundo a agência de notícias Xinhua, citando um anúncio do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo.
Isso inclui o ex-chefe da Força de Foguetes do Exército, Li Yuchao, que foi substituído abruptamente em julho, seu antecessor, Zhou Yaning, outros dois funcionários da unidade, dois funcionários do Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos, o vice-chefe do Departamento de Estado-Maior Conjunto, Zhang Zhenzhong, e o ex-comandante da Força Aérea Ding Laihang.
Zhou Yaning chefiou a Força de Foguetes de 2017 a 2022. Zhang Zhenzhong foi vice-comandante da mesma unidade de 2016 a março de 2022. Três executivos de empresas estatais de defesa de mísseis também foram destituídos de sua filiação a um órgão consultivo político cerimonial na quarta-feira (27).
O Ministério da Defesa da China prometeu “combater cada oficial corrupto” em agosto, quando questionado sobre o paradeiro do antecessor de Li, Wei Fenghe —sua primeira referência a investigações de corrupção entre os principais líderes militares após uma grande reestruturação da força, responsável pelo arsenal nuclear e de mísseis convencionais da China.
Durante seu breve mandato como ministro, Li não se encontrou com seu homólogo americano, o secretário de Defesa Lloyd Austin. O ministério explicou que Washington teria que primeiro remover as sanções que impôs a Li em 2018 por seu papel na compra de aeronaves e equipamentos russos. Dong não enfrentaria tal restrição, pois não há informações se ele está sob sanções americanas.
Quando o presidente Joe Biden e Xi se encontraram em San Francisco no mês passado, ambos os líderes concordaram em retomar as conversas militares de alto nível que foram suspensas após a visita da então presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan em agosto de 2022.