A China pressionou uma popular banda de rock taiwanesa a fazer comentários pró-China antes das eleições de Taiwan em 13 de janeiro, segundo pessoas com conhecimento da situação e uma nota de segurança de Taiwan. Pequim negou ter tomado tal medida.
A Administração Nacional de Rádio e Televisão da China teria pedido à banda Mayday para expressar publicamente que Taiwan, ilha autônoma vista pelos chineses como “província rebelde”, faz parte do território chinês, de acordo com nota interna de segurança de Taiwan à qual a agência Reuters teve acesso.
Os músicos não teriam concordado com o suposto pedido da China de fornecer um “serviço político” não especificado, disse um taiwanês com conhecimento direto da situação, que pediu anonimato.
A empresa de gerenciamento da banda não respondeu aos pedidos de comentário. Após a publicação da história da Reuters sobre o Mayday, o governista Partido Democrático Progressista (PDP) de Taiwan criticou a China, dizendo que isso demonstrava mais uma vez como Pequim está tentando influenciar o voto. O principal partido de oposição de Taiwan, o Kuomintang (KMT), disse que, se as acusações fossem verdadeiras, também condenaria o comportamento da China e pediria uma resposta.
Mais de 24 horas depois de a Reuters solicitar uma manifestação, o escritório de assuntos de Taiwan da China emitiu uma declaração divulgada pela mídia taiwanesa dizendo que as acusações de que o governo pressionou o Mayday eram “notícias falsas” e que o PDP estava espalhando rumores. “Isso é uma manipulação política sinistra e maliciosa”, disse o escritório, segundo a Agência Central de Notícias de Taiwan e outros veículos.
Os integrantes do Mayday estão entre os artistas taiwaneses mais bem-sucedidos na China, um mercado que se tornou cada vez mais desafiador para celebridades da ilha vizinha à medida que Pequim intensifica sua pressão política para afirmar suas reivindicações de soberania.
Autoridades chinesas pediram à banda que se juntasse à “propaganda midiática sobre Taiwan” da China, de acordo com o relatório de segurança elaborado neste mês que citou informações sobre as atividades do governo chinês coletadas pelas autoridades de Taiwan.
Dois funcionários de segurança de Taiwan disseram separadamente que, como parte de uma campanha de pressão, as autoridades chinesas anunciaram em dezembro uma investigação sobre o Mayday, após alegações nas redes sociais chinesas de que a banda havia feito playback durante um de seus shows recentes na China.
Investigação de playback
A pessoa com conhecimento direto da situação disse que, depois de a banda se recusar a fazer comentários pró-Pequim, as autoridades chinesas ameaçaram a banda com uma multa por fazer playback —uma prática proibida na China. “Eles terão que pagar se não cooperarem”, disse a pessoa.
As conclusões da investigação de playback e quaisquer penalidades para o Mayday ainda não foram divulgadas publicamente. A empresa de gerenciamento do Mayday, B’in Music, já negou anteriormente as alegações durante a turnê da banda em novembro na China.
O Departamento de Publicidade da China, que supervisiona a administração de rádio e televisão, não respondeu aos pedidos de comentário. Os dois funcionários de segurança de Taiwan, citando informações coletadas por Taiwan, disseram que a campanha foi liderada pelo Departamento de Publicidade da China em uma tentativa de influenciar os eleitores antes das eleições presidenciais e legislativas de Taiwan em 13 de janeiro. Ao fazer isso, as autoridades chinesas acreditam que poderiam “influenciar o voto dos jovens em Taiwan”, disse um dos funcionários.
Eles descreveram a escala da campanha interdepartamental contra o Mayday como “sem precedentes”, envolvendo cobertura das alegações de playback pelo jornal oficial do Partido Comunista Chinês, o People’s Daily, pela emissora estatal CCTV e pela agência oficial de notícias Xinhua.
O Procuratorate Daily, administrado pela Suprema Procuradoria Popular da China, também publicou um artigo em dezembro descrevendo o playback como um ato de fraude punível pelas leis chinesas e instando os reguladores a intensificar a supervisão.
Autoridades de Taiwan têm alertado repetidamente nos últimos meses que Pequim está tentando novos métodos para interferir nas eleições e fazer com que os eleitores votem em candidatos pró-China. Isso incluiu sanções comerciais, atividades de intercâmbio com políticos de Taiwan e movimentos militares.
Pequim, que aumentou a pressão militar e política para forçar a ilha a aceitar sua soberania, apresenta as eleições como uma escolha entre “paz e guerra”, chamando o PDP de separatistas perigosos e instando os taiwaneses a fazerem a “escolha certa”.