Pressionada pelo número recorde de imigrantes que tentam atravessar a fronteira sul dos EUA, a Casa Branca enviou nesta quarta-feira (27) uma delegação para cobrar do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, mais ações para coibir o fluxo.
O encontro ocorre enquanto uma caravana com milhares de pessoas, vindas sobretudo de Honduras, Haiti e Cuba, caminha em direção ao território americano carregando faixas com a frase “êxodo da pobreza”. O grupo, estimado de 6.000 a 8.000 migrantes, iniciou o trajeto no último domingo (24) e está a cerca de 1.600 km da fronteira.
Participaram da reunião, realizada na Cidade do México, os secretários de Estado, Antony Blinken, e de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas. Também integrou a comitiva a conselheira de segurança interna da Casa Branca, Elizabeth Sherwood-Randall.
Após a conversa, Blinken afirmou que deixou claro que os EUA estão “comprometidos em fazer parceria com o México para lidar com nossos desafios compartilhados, incluindo gerenciar a migração irregular sem precedentes na região, reabrir os postos-chave de entrada e combater o fentanil ilícito e outras drogas sintéticas”.
Pouco antes de o encontro começar, AMLO, como é conhecido o presidente mexicano, cobrou dos EUA mais apoio aos países latino-americanos para desestimular o fluxo de migrantes, em vez de erguer mais barreiras.
“É mais eficiente e mais humano investir no desenvolvimento das pessoas”, afirmou. Sem ignorar o contexto doméstico americano, ele disse que a questão migratória deve ser o principal tema da disputa presidencial do próximo ano.
Na última quinta (21), AMLO e Biden conversaram por telefone sobre o fluxo migratório. Segundo a Casa Branca, os líderes concordaram que ações adicionais urgentes são necessárias para que os postos de entrada na fronteira entre os países possam ser reabertos.
O mexicano, por sua vez, disse sobre o telefonema que reafirmou o comprometimento do México em ajudar “como nós sempre fazemos”. Ele declarou que o país ajudou os EUA a fazer um acordo com a Venezuela para a deportação de imigrantes e que propôs a Biden a reabertura do diálogo com Cuba.
Trajetos de trem entre El Paso, no México, e Eagle Pass, no Texas, chegaram a ser temporariamente suspensos na semana passada para frear o fluxo, prejudicando o comércio entre os países. Um acesso via Lukeville, no Arizona, também foi fechado.
“Nós conversamos sobre a importância de reabrir os pontos da fronteira, isso é uma prioridade para nós”, afirmou a secretária de Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, após a reunião.
A Casa Branca anunciou recentemente um acordo com a Venezuela para retomar a deportação de cidadãos do país –Caracas até então se negava a receber de volta os imigrantes.
Biden ainda promoveu uma cúpula no mês passado com representantes de nove países latino-americanos em que anunciou que os EUA vão trabalhar em conjunto com os locais que recebem imigrantes e refugiados para estabilizar essas comunidades –ou seja, evitar que eles se desloquem ao norte, como acontece com venezuelanos em passagem pela Colômbia.
O governo Biden vem sendo duramente criticado, até por membros do seu próprio partido, por não fazer mais em relação ao número recorde de imigrantes que cruzam a fronteira de modo ilegal. O número de detenções por agentes na área chegou a ultrapassar 10 mil por dia nas últimas semanas. Em novembro, 190 mil pessoas foram apreendidas tentando entrar nos EUA, de acordo com autoridades americanas.
A segurança das fronteiras é a questão em que Donald Trump se sai melhor em comparação com Biden na visão do eleitorado em uma lista de sete temas. Uma pesquisa de opinião realizada pelo Wall Street Journal aponta que, para 54% dos americanos, o ex-presidente é mais preparado para lidar com o problema –contra 24% que preferem Biden.
Tanto o empresário quanto os demais pré-candidatos republicanos à Presidência têm mirado essa fragilidade do democrata para ganharem apoio do eleitorado. As propostas vão desde ampliação do número de agentes na fronteira a envio das Forças Armadas ao México –com autorização ou não do vizinho.
No Congresso, republicanos também colocaram o tema no topo da agenda. Um pacote emergencial enviado pela Casa Branca com pedido de gastos suplementares para Ucrânia, Israel, Indo-Pacífico e fronteiras está parado no Senado, diante da exigência da oposição de medidas mais drásticas para coibir a entrada de imigrantes.