O Kremlin acusou o Wall Street Journal de fazer “ficção sensacionalista” na sexta-feira (22), depois que o jornal americano publicou uma reportagem afirmando que a morte do líder mercenário Ievguêni Prigojin em um acidente de avião havia sido orquestrada pelo secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patruchev, aliado do presidente Vladimir Putin.
Segundo relato do WSJ, o jato particular de Prigojin foi derrubado por uma pequena bomba colocada sob uma asa. A reportagem credita as informações a autoridades de inteligência ocidentais não identificadas e a um ex-agente de inteligência russo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que viu a reportagem, mas que não a comentaria. “Nos últimos tempos, infelizmente, o Wall Street Journal tem gostado muito de produzir ficção sensacionalista.”
Prigojin, chefe do Grupo Wagner, que lutou pela Rússia na Ucrânia, travou uma longa disputa com as forças de segurança e defesa que culminou em um motim em junho. A rebelião terminou rapidamente, mas foi vista como um desafio sério ao controle de quase um quarto de século de Putin sobre o país.
Prigojin morreu em um acidente de avião exatamente dois meses depois. O Kremlin já rejeitou anteriormente a insinuação de que ele havia sido morto por ordem de Putin, dizendo se tratar de uma “mentira absoluta”.
Putin sugeriu em outubro que o acidente foi causado por granadas de mão detonadas dentro da aeronave.
Outras nove pessoas também morreram: dois outros líderes do Grupo Wagner, quatro guarda-costas de Prigojin e uma tripulação de três pessoas.
Segundo a reportagem do WSJ, o assassinato foi planejado durante dois meses e aprovado por Patruchev. Ele viria alertando Putin havia muito tempo que a dependência de Moscou do Grupo Wagner na Ucrânia dava a Prigojin muito poder político e militar e ameaçava o Kremlin.
Com dezenas de milhares de tropas e operações lucrativas de exploração de ouro, madeira e diamantes na África, Prigojin gerenciava um império bilionário no exterior. Mas, de volta à Rússia e no campo de batalha na Ucrânia, seus confrontos públicos com os principais líderes militares a respeito de armas e suprimentos o colocaram em rota de colisão com o Kremlin, relatou o jornal.
Patruchev, 72, é um ex-chefe do serviço de segurança FSB que agora atua como secretário do Conselho de Segurança da Rússia. Ele é considerado um dos conselheiros mais influentes e linha-dura entre os assessores próximos de Putin. Os dois se conhecem desde que trabalharam juntos na KGB soviética em Leningrado —agora São Petersburgo— desde os anos 1970.