Às vésperas do começo oficial do inverno no hemisfério norte, época em que normalmente se inicia a temporada de esqui nas montanhas da Espanha, banhistas aproveitaram dias de praia em Málaga, no sul do país, onde os termômetros registraram 29,9°C em 12 de dezembro. Outras cidades espanholas também enfrentaram temperaturas atípicas para o período.
A Espanha se despede de 2023, portanto, da mesma forma como esteve em boa parte do ano: com ondas de calor. Segundo a Agência Estatal de Meteorologia espanhola, a frequência de eventos desse tipo no país triplicou na última década.
A ocorrência de eventos climáticos extremos também vem se multiplicando de maneira geral na Europa. De norte a sul do continente, os países europeus enfrentaram uma série de intempéries climáticas nos últimos meses.
A última edição do relatório Estado do Clima na Europa, publicada em julho, indica que o velho continente está aquecendo duas vezes mais rápido do que os demais.
O documento destaca que os resultados alarmantes “não podem ser considerados ocorrências únicas ou acasos do clima”, sendo resultado concreto do aquecimento planetário.
Secas, incêndios florestais de grandes proporções, ondas de calor e derretimento inédito de gelo atingiram várias nações europeias, causando prejuízos econômicos e sociais.
“Nosso entendimento atual é de que o sistema climático e sua evolução nos informam de que esses tipos de eventos [extremos] são parte de um padrão que irá fazer extremos de calor mais frequentes e mais intensos pela região”, diz Carlo Buontempo, do centro de monitoramento Copernicus.
Altamente dependente do turismo, a Grécia enfrentou uma série de grandes incêndios em plena alta temporada, em julho e agosto, os principais meses de férias do verão europeu.
Turistas e moradores precisaram ser resgatados de ilhas famosas, como Creta, em imagens que correram o mundo. A parte continental do país também foi severamente atingida.
Com temperaturas acima dos 40°C, Atenas chegou a fechar, nas horas de pico de calor, todos os sítios arqueológicos da cidade, incluindo a famosa Acrópole, por conta dos riscos à saúde dos viajantes.
Na mesma época, Espanha, Itália, França, Alemanha e Polônia também estavam sob alerta de condições climáticas extremas.
Em meio a uma das piores secas dos últimos anos, autoridades francesas passaram a adotar medidas de emergência para economizar água ainda em maio, durante a primavera. Em cidades no sul do país, região mais afetada, chegou a ser proibido, durante mais de um mês, atividades como encher piscinas ou lavar carros.
A seca contribuiu para a propagação de incêndios florestais. Um dos maiores aconteceu em agosto em Gironde, no sudoeste do território francês, destruindo casas e forçando a evacuação de milhares de moradores e viajantes.
Depois do calor intenso, foi a vez das inundações de grandes proporções. As mudanças climáticas têm contribuído para distúrbios nos padrões de chuvas, incluindo volumes atípicos de precipitação em curtos espaços de tempo.
Inundações rápidas e de grande proporções foram documentadas, entre outras localidades, na Eslovênia, na Noruega, na Alemanha e na Suécia.
O fim do verão, contudo, não representou o fim das anomalias climáticas.
De acordo com o serviço de monitoramento Copernicus, o braço de observação da Terra da Agência Espacial Europeia, a temperatura média no continente para este outono (setembro a novembro) foi de 10,96°C: um valor 1,43°C acima da média da estação.
Com isso, o outono de 2023 foi o segundo mais quente já registrado na região. A diferença para o recordista, porém, foi apertada: este ano foi apenas 0,03°C mais frio do que 2020.
A situação piora se forem agregados dados do restante do mundo. Ainda segundo informações da agência, o período entre setembro e novembro deste ano foi o mais quente já registrado no mundo. A temperatura média foi de 15,30°C: o que representa 0,88°C acima da média para o período.
“Enquanto as concentrações de gases com efeito de estufa continuarem a aumentar, não podemos esperar resultados diferentes daqueles observados este ano. A temperatura continuará a subir, assim como os impactos das ondas de calor e das secas”, diz Carlo Buontempo, do Copernicus.
“Alcançar emissões líquidas zero o mais rapidamente possível é uma forma eficaz de gerir os nossos riscos climáticos”, completou.