O ex-advogado de Donald Trump e ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani foi condenado nesta sexta-feira (15) a pagar US$ 148 milhões (R$ 730 milhões) em indenização por danos morais a duas funcionárias que trabalharam na eleição presidencial de 2020 dos Estados Unidos. Elas foram acusadas por ele, sem provas, de terem “ajudado a fraudar” o resultado do pleito.
O tribunal federal em Washington determinou que Giuliani deve pagar US$ 73 milhões (R$ 360,5 milhões) a Wandrea Moss e sua mãe, Ruby Freeman, para compensá-las pelos danos emocionais e de reputação que elas sofreram com as acusações falsas. Ele ainda deve pagar outros US$ 75 milhões (R$ 370 milhões) ao governo em multas por sua consulta.
Antes do julgamento, um juiz já havia determinado que Giuliani era responsável por difamação, imposição intencional de sofrimento emocional e conspiração civil. As únicas pendências decididas pelo tribunal nesta sexta foram os valores das indenizações. Após a sentença, o ex-advogado de Trump manifestou indignação e disse que vai recorrer. “O absurdo dos números apenas sublinha o absurdo de todo o processo”, disse ele.
O veredicto foi alcançado após três dias de depoimentos nos quais Moss e Freeman, que são negras, relataram terem recebido uma enxurrada de mensagens racistas e sexistas, incluindo ameaças de linchamento. As ofensas começaram depois que Trump e seus aliados espalharam alegações falsas de que elas estavam envolvidas em fraude eleitoral.
“O senhor Giuliani pensou que poderia fazer de Moss e Freeman o rosto da fraude eleitoral porque as achava comuns e dispensáveis”, disse o advogado das vítimas, Michael Gottlieb. “Ele não tem o direito de oferecer funcionários públicos indefesos a uma multidão virtual para anular uma eleição.”
Joseph Sibley, advogado de Giuliani, admitiu que seu cliente causou danos, mas acrescentou que a indenização solicitada seria “catastrófica”. Ele disse ao júri que Giuliani era um “bom homem”, referindo-se ao seu papel como prefeito de Nova York diante dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O ex-presidente Trump e aliados afirmaram diversas vezes, sem provas, que houve fraude eleitoral na eleição americana —alegação que o atual favorito à nomeação republicana para o pleito presidencial de 2024 continua a repetir ainda hoje.
Giuliani desempenhou um papel importante nos esforços de campanha de Trump para promover essas alegações falsas. Em agosto, o ex-advogado do publicano chegou a ser detido para ser acusado formalmente pela Justiça de tentar reverter o resultado das eleições de 2020 em favor de Trump no estado da Geórgia.
O processo diz respeito às tentativas do ex-presidente de interferir no resultado eleitoral do estado, onde ele foi derrotado por Joe Biden por uma diferença de 0,02 ponto percentual. “Veja, tudo o que quero é isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença]. Porque nós ganhamos a Geórgia”, afirmou o republicano na hoje famosa ligação à principal autoridade eleitoral local, o secretário de Estado Brad Raffensperger.
Giuliani é acusado de ter endossado uma série de declarações inverídicas sobre fraude eleitoral, incluindo ao se comunicar com autoridades dos estados do Arizona e Pensilvânia, em uma tentativa fracassada de convencê-los a aprovar uma lista alternativa de integrantes do Colégio Eleitoral na certificação formal dos resultados do pleito.