O Brasil nunca saiu do nível mais baixo da escala de proficiência do Pisa, uma avaliação internacional com alunos de 15 anos. Além disso, a quantidade de alunos brasileiros com desempenho abaixo do desejável é alta. Os resultados mostram que 73% dos brasileiros não sabem o básico de matemática, por exemplo. A situação é desastrosa, mas a solução não seria tão complexa. Com vontade política e acesso a experiências eficientes, o Brasil poderia ter melhores resultados – sem gastar mais do que já gasta.
Desde que começou a participar do Pisa, o Brasil não saiu do nível 1, o mais baixo da escala. O exame avalia os alunos de 15 anos de 81 países e economias nas áreas de leitura, matemática e ciência (veja abaixo mais detalhes sobre o Pisa). Desde 2009, o país se encontra estagnado com notas baixas e só sobe no ranking quando os países próximos oscilam no desempenho. Mas quão difícil é melhorar a pontuação no Pisa – e a educação como um todo – do Brasil?
Para Ilona Becskeházy, doutora em política educacional pela USP, a vontade política é o principal fator para superar os obstáculos. “Falta um investimento político e de energia, não é gastar tanto dinheiro. O custo do papel, da tinta, das reuniões será o mesmo. Tanto que Sobral conseguiu melhorar os resultados gastando o mesmo que se gasta em outros municípios”, comenta Ilona.
Sobral, município do Ceará, passou a ser referência em educação para todo o Brasil. Os últimos resultados dos municípios na prova do Saeb, avaliação que mede o desempenho dos alunos em português e matemática, coloca a cidade cearense bem acima da média. Dos alunos de escolas públicas do 5º ano, 88% estão com o nível de aprendizagem adequado em português e 82% em matemática. A média do Brasil é de 51% em português e 37% em matemática.
À procura de boas políticas de educação
Ilona explica que além do empenho dos governantes para implementação de uma educação de qualidade, é preciso ter acesso a práticas eficientes no campo. Para isso, o Brasil poderia aprender com a experiência de outros países. Singapura é um país asiático que têm ótimos resultados em matemática. Já o Chile contratou uma consultoria da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pelo Pisa, para melhorar a educação no país.
Nacionalmente também é possível encontrar algumas referências – como o caso de Sobral em relação à alfabetização. “Se fosse lei, por exemplo, que todo aluno de seis anos tem que ler um texto de 50 palavras, o que deveria acontecer, a gente correria atrás pelo menos. Foi o que Sobral fez”, complementa Becskeházy.
O MEC está elaborando o Plano Nacional de Educação que vai estabelecer as diretrizes da educação no Brasil de 2024 a 2034. As poucas metas que medem qualitativamente o ensino são criticadas no documento-base divulgado pela pasta.
Além disso, o texto possui vários pontos sobre fim das escolas cívico-militares, oposição ao agro, e ainda ideologia de gênero. A Gazeta do Povo já mostrou que, para especialistas, os resultados ruins no Pisa estão relacionados com o baixo nível de exigência e a ideologização do ensino.
Currículo, material didático, avaliação e formação dos educadores são os pilares da educação de qualidade
Ilona explica que a educação se baseia em quatro pilares: currículo exigente, materiais didáticos de excelência, avaliações eficientes e formação da capacidade didática (que não se restringe aos professores, mas cabe a toda a sociedade). “São quatro pilares importantes, mas o início de tudo é o currículo. Sem o currículo, que livros didáticos você vai escrever, que avaliações você vai fazer e que formação didática que você vai dar?”, questiona.
A especialista entende que “o currículo tem que ser claro, bem escrito e exigente. Tudo o que a gente não tem”. Para ela, a educação brasileira possui defasagem não só no currículo, mas em todos os quatro pilares citados.
“Para dar conta desse currículo em sala de aula, você tem que ter bons materiais didáticos. Bons livros didáticos, bons exercícios, questões com boas sequências didáticas. Porque aí você leva esse conhecimento e essa aferição do conhecimento dentro de sala de aula. O aluno vai fazendo exercícios e, junto com o professor, vendo se está aprendendo”, explica.
“Algumas editoras que atuam no Brasil têm matriz estrangeira, elas poderiam trazer livros de qualidade para o Brasil. Elas não trazem porque não há demanda”, afirma. Ela comenta que essa demanda poderia ser feita também pelos pais, não ficando restrita aos gestores educacionais. Porém, infelizmente, ela acredita que as famílias ainda estão pouco preocupadas com a qualidade da educação dos filhos. .
Para ela, as avaliações brasileiras, como a prova do Saeb e a Prova Brasil, não são adequadas. É a partir dessas provas que é possível ter um diagnóstico preciso de como está a situação educacional. É importante que haja questões bem elaboradas que possam medir verdadeiramente o conhecimento dos alunos. “É preciso ter uma avaliação externa [como o Saeb e a Prova Brasil] para conseguir avaliar se está todo mundo aprendendo. Você tem que ter uma avaliação para você saber o que se passa em sala de aula”, comenta.
Com a parte material bem preparada, Ilona considera que fica mais fácil ensinar. E isso não serve só para os docentes, mas também para as famílias. “Você tem que ter uma formação de capacidade didática dos professores, em sala de aula, mas das famílias também para que possam apoiar os filhos no seu aprendizado. Então, se você tem em casa uma mãe que não sabe fazer as quatro operações básicas de matemática, é muito difícil que ela vá ajudar o seu filho com a lição”, opina.
O que é o Pisa
O Pisa é uma prova elaborada pela OCDE e aplicada para alunos de 15 anos. A avaliação serve para medir os conhecimentos básicos nas áreas de leitura, matemática e ciências. A faixa etária de 15 anos foi definida porque, quando o Pisa foi criado, a educação básica obrigatória finalizava aos 15 anos na maioria dos países membros. Como o objetivo da avaliação é medir a qualidade da mão de obra que está entrando no mercado de trabalho dos países, as questões elaboradas são voltadas para aferir a capacidade do aluno de aplicar o conhecimento.
No teste, há questões com respostas objetivas e discursivas. As perguntas costumam ser simples com textos curtos, mas bem elaboradas. Cada uma das questões está associada a um determinado nível de dificuldade que permite que os resultados sejam mais precisos. Na prova de leitura, por exemplo, é medida a capacidade de interpretação em vários níveis de complexidade.
Apesar do objetivo inicial estar voltado à qualidade dos jovens profissionais, os países começaram a utilizar os resultados na elaboração de políticas educacionais. Além da aplicação das provas, alunos e diretores respondem a um questionário socioeconômico que tem como objetivo diagnosticar o que de fato é aprendido na escola e o conhecimento originado no contexto familiar dos alunos.