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Pesquisadores, políticos e familiares do economista uigur Ilham Tohti lançaram nesta segunda-feira (11), em Bruxelas, uma campanha para indicá-lo ao Nobel da Paz. Tohti foi condenado à prisão perpétua em 2014 na China, acusado de promover o separatismo de Xinjiang, província de maioria muçulmana.
Em 2006, ele criou um um site sobre as relações entre uigures e hans, a maioria étnica chinesa. Em publicações, defendia a aprovação de uma lei que garantisse à província mais autonomia em relação a Pequim.
O governo chinês acusou o acadêmico de incitar violência, promover separatismo e defender a queda do Partido Comunista. Segundo Pequim, Tohti teria promovido discurso de ódio contra os chineses em suas palestras. Ele nega.
Segundo o South China Morning Post, a campanha em Bruxelas pelo Nobel da Paz foi endossada por mais de 170 ministros, parlamentares, reitores e acadêmicos. Eles se comprometeram a fazer nomeações individuais ao parlamento da Noruega, que avalia os indicados e escolhe o vencedor.
A filha de Ilham Tohti, atualmente refugiada nos Estados Unidos, disse apoiar a campanha por acreditar que a pressão internacional obrigaria Pequim a provar que o pai ainda está vivo.
Por que importa: uma potencial vitória de Tohti até poderia confirmar que ele não morreu na prisão, mas dificilmente melhoraria suas condições de vida. A China tende a considerar prêmios do tipo aos ativistas políticos como um desafio direto à sua segurança e soberania.
Em 2010, o país se recusou a autorizar que o advogado Liu Xiaobo recebesse o Nobel da Paz daquele ano. Preso em 2009 acusado de “subversão contra o Estado chinês”, Liu foi apenas o terceiro na história a não receber o prêmio.
A China também proibiu que familiares comparecessem à cerimônia representando-o. O ativista foi libertado em junho de 2017, quando enfrentava um câncer hepático em fase terminal. Ele morreu um mês depois.
Pare para ver
Autor: Ehmet morreu em 2017, referenciado como o principal pintor uigur da sua geração. Leia mais sobre o trabalho aqui.
O que também importa
★ As Filipinas acusaram a China de disparar canhões de água contra seus navios no disputado Mar do Sul da China. O governo filipino convocou o embaixador de Pequim e apresentou um protesto diplomático após o incidente. Pequim defendeu as ações, acusando as Filipinas de violar sua soberania. Os dois países disputam há décadas a soberania sobre a região. As tensões aumentaram este ano, após o novo presidente filipino Ferdinand Marcos Jr aumentar a parceria com os EUA.
★ A médica e ativista Gao Yaojie, que expôs a epidemia de Aids na China rural e viveu exilada nos EUA, morreu aos 95 anos. Conhecida como “Vovó Coragem” pela revista Time, Gao começou, em 1996, a tratar de pessoas afetadas pela doença em vilarejos de Henan. Ela visitou mais de 100 vilarejos e tratou mais de 1000 pessoas.
★ A delegação chinesa criticou na COP28, cúpula do clima que acontece em Dubai, as sugestões para que Taiwan fosse incluída nas negociações sob a égide da ONU. Chineses destacaram que durante a reunião “alguns países ignoraram o fato de que Taiwan é parte inalienável da China e fizeram comentários sobre a participação das autoridades taiwanesas”. Pequim classificou a situação como “inaceitável” e pediu que a manifestação de repúdio ao tópico fosse registrada no relatório oficial da COP.
Fique de olho
Restrita a candidatos “patriotas” pré-selecionados, as eleições distritais de Hong Kong registraram a menor participação na história. Apenas 27,5% dos eleitores compareceram às urnas.
O recorde negativo anterior tinha sido registrado em 1999, quando 35,8% votaram. Há quatro anos, nas últimas eleições deste tipo, durante os protestos em massa pró-democracia em Hong Kong, 71% participaram.
- No pleito de 2019, houve vitória esmagadora de candidatos pró-democracia;
- Muitos dos eleitos perderam o mandato e foram presos acusados de sedição e violação à polêmica lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020.
Por que importa: o pleito acontece após a implementação da lei de segurança nacional, usada pela China para reprimir a dissidência e reformular o sistema eleitoral honconguês, excluindo democratas e liberais. O baixo comparecimento pode ser interpretado como um sinal de desinteresse numa votação questionada e vista como antidemocrática.
Neste ano, por exemplo, os assentos ocupados por votações diretas foram reduzidos em quase 80%. Todos os candidatos foram obrigados a se submeter a “verificações de antecedentes de segurança nacional” e a obter nomeações de dois comitês pró-Pequim.
Para ir a fundo
- A Observa China lançou um guia sobre a Iniciativa de Cinturão e Rota, uma das principais estratégias de internacionalização e infraestutura da China. O documento, que contou com a participação de 13 acadêmicos, pode ser lido na íntegra aqui. (gratuito, em português).
- O Instituto Confúcio da Unesp recebeu virtualmente a diretora Qiao Sixue do filme “Cordão da Vida” para falar sobre cinema chinês. Mediada pela cineasta brasileira Milena de Moura Barba, a conversa ficou gravada e pode ser conferida aqui. (gratuito, em português e chinês).
- Cinco das melhores universidades da China realizam em janeiro um seminário explicando como se candidatar a bolsas de estudo no país. A sessão também vai explicar como funciona o sistema de ensino superior chinês. Inscrições aqui. (gratuito, em inglês).