A pressão exercida pelo mundo político nos Estados Unidos em relação ao setor acadêmico em meio à guerra Israel-Hamas jogou os holofotes em Claudine Gay, a reitora da prestigiosa universidade de Harvard —e a primeira mulher negra a ocupar esse posto.
Mais de 70 legisladores americanos, a maioria republicanos, pediram na última sexta-feira (8) que Harvard, a Universidade da Pensilvânia e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), demitissem suas reitoras por supostamente terem falhado em combater o que chamam de “antissemitismo endêmico” no ambiente universitário.
A acusação ganhou corpo após as três —além de Harvard, as outras duas instituições também têm mulheres à sua frente— testemunharem perante um comitê da Câmara dos EUA sobre o assunto e se recusarem a responder “sim” ou “não” à pergunta de uma congressista republicana sobre se pedir o genocídio de judeus viola ou não códigos de conduta.
As reitoras alegaram que era preciso equilibrar uma proibição do tipo com as proteções à liberdade de expressão de seus alunos, docentes e demais funcionários. E essa resposta foi a brecha para que legisladores pedissem que as instituições as retirassem de seus cargos.
A pressão contra Gay cresceu no último sábado (9), quando Mary Elizabeth Magill, a reitora da Universidade da Pensilvânia, renunciou ao cargo um dia antes de uma reunião do conselho de administração da instituição que deveria debater sua permanência ou não no posto.
Frente a esse cenário, nesta segunda (11) cerca de 700 professores assinaram uma carta endereçada à Corporação de Harvard, órgão superior da universidade, opondo-se à possível demissão da reitora.
De acordo com o texto visto pela agência de notícias AFP, os docentes pedem “encarecidamente” que “a independência da universidade seja defendida e que a instituição resista a pressões políticas, como a petição para a destituição de Claudine Gay, que são contrárias ao compromisso de Harvard com a liberdade acadêmica”.
“A proteção fundamental de uma cultura de pensamento livre em nossa comunidade diversa é impossível se permitimos que seja ditada por forças externas”, seguem os docentes.
Desde a polêmica resposta dada perante o Comitê de Educação da Câmara, Gay buscou se retratar duas vezes. Primeiro, emitiu um comunicado nas redes sociais oficiais de Harvard. “Há quem confunda o direito à liberdade de expressão com a ideia de que Harvard vai tolerar pedidos de violência contra estudantes judeus”, dizia.
“Serei clara: esses pedidos contra a comunidade judaica ou contra qualquer outro grupo religioso ou étnico não têm lugar em Harvard, e aqueles que ameaçam estudantes judeus serão responsabilizados.”
Depois, ao Harvard Crimson, jornal estudantil da universidade, disse que sentia muito “por suas palavras” ao ter afirmado que os pedidos de genocídio de judeus tinham de ser analisados dentro de seus respectivos contextos no ambiente acadêmico.
“Palavras são importantes. E, quando elas ampliam a angústia e a dor, não se pode sentir outra coisa que não seja arrependimento”, afirmou.