Em uma das ações mais ousadas dentro do território russo desde que escalou sua guerra de drones contra o vizinho, a Ucrânia atingiu ao menos quatro aviões de transporte pesado Iliuchin Il-76, o principal cargueiro militar de Moscou.
A ação ocorreu no fim da noite de terça (29, fim da tarde no Brasil) em Pskov, 600 km a noroeste da capital. “O Ministério da Defesa está repelindo um ataque de drones contra o aeroporto”, afirmou no Telegram o governador local, Mikhail Vedernikov, que postou um vídeo com um grande incêndio, sons de explosões e de sirenes.
Pskov fica a cerca de 60 km da fronteira da membro da aliança ocidental Otan Estônia, e pertence a uma região a 800 km da Ucrânia que não havia sido atingida ainda na guerra. Ela sedia uma importante base aérea, e a informação acerca dos danos aos Il-76 foi dada pela agência estatal Tass, sem detalhar o grau do estrago.
Os aviões, de origem soviética, são o esteio da aviação de transporte militar da Rússia, que opera 110 deles. Antes, drones de Kiev haviam danificado e destruído bombardeiros estratégicos empregados nos ataques à Ucrânia em bases dentro do país de Vladimir Putin, e no ano passado metade de uma frota de caças na Crimeia foi destruída.
Devido aos ataques, os voos no aeroporto moscovita de Vnukovo foram suspensos no começo da madrugada de quarta (30). A ação ocorreu em meio a um ataque coordenado com aviões-robôs em diversos pontos do sul da Rússia. Segundo a Defesa russa, três drones foram derrubados na região de Briansk, dois em Orlov, um em Tula e outro, em Kaluga.
Houve ao menos um ataque contra Moscou, alvo constante nas últimas semanas de drones. Segundo a prefeitura, um aparelho foi derrubado perto do distrito de Ruzki. Tudo indica que esse é uma das maiores ações contra o país desde o começo da guerra, em 2022.
Ainda é incerto que tipo de aparelho foi usado contra Pskov. Os ucranianos têm alguns drones de longo alcance, que podem atingir alvos a mais de mil quilômetros, mas eles são maiores e em tese mais fáceis de serem identificados por defesas aéreas.
Já modelos pequenos, de curto alcance, precisam ser lançados de dentro do território russo, sugerindo a infiltração de comandos ucranianos ou a colaboração de rebeldes contrários ao Kremlin.
Nesta semana, o foco parecia direcionado mais à Crimeia anexada, que teve dois dias seguidos com drones sendo abatidos por defesas russas. Ainda nesta madrugada de quarta na região, a Rússia disse que afundou quatro botes de alta velocidade que transportavam soldados de tropas especiais ucranianas para tentar entrar na península.
Kiev ainda não comentou o episódio, que ocorre uma semana depois de uma ação secreta que envolveu a entrada de forças especiais na Crimeia, com direito a hasteamento da bandeira ucraniana, e a destruição de uma poderosa bateria antiaérea S-400 dos russos na região.
Toda essa movimentação assimétrica ocorre enquanto a Ucrânia sofre para fazer avançar sua contraofensiva, lançada em 4 de junho. Nas duas últimas semanas, o Ministério da Defesa local anunciou a conquista da cidade de Robotine, o que poderia sugerir uma entrada mais incisiva na região de Zaporíjia (sul).
Na prática, contudo, o avanço nem chegou ainda à primeira das três linhas fortificadas dos russos na região. Com o frio lentamente se aproximando e a paciência do Ocidente cada vez mais duvidosa, a ação de Kiev tornou-se uma corrida contra o tempo, que vem sendo temperada com um aumento grande nas ações de impacto mais simbólico.
Se os Il-76 foram destruídos, contudo, há um ganho militar evidente, dada a importância do aparelho para as Forças Armadas do Kremlin. Segundo os relatos iniciais, não houve vítimas nos ataques.