O clima de polarização que já domina a Argentina há décadas deu as caras novamente na posse do novo presidente Javier Milei neste domingo (10), com frase de ódio e xingamentos de seus apoiadores à esquerda nas ruas e até um dedo do meio mostrado por Cristina Kirchner, agora ex-vice.
Foram episódios isolados, no entanto. Até agora a cerimônia ocorreu com tranquilidade, salvo alguns bate-bocas e empurra-empurras pela quantidade de gente que lotou os entornos do Congresso Nacional, onde Milei fez seu primeiro discurso. Na fala, ele disse que não perseguirá opositores.
“Em relação à classe política argentina, quero dizer que não viemos perseguir ninguém. Não viemos acertar antigas contas nem discutir espaços de poder. Nosso projeto não é um projeto de poder. Nosso projeto é um projeto de país”, afirmou.
Logo depois, porém, o novo presidente mandou um aviso a sindicatos, movimentos sociais e aos chamados “piqueteiros”, que costumam usar o fechamento massivo de ruas como forma de protesto e já marcaram atos para as próximas semanas.
“Aqueles que querem usar violência ou extorsão para obstruir a mudança, dizemos que encontrarão um presidente com convicções inabaláveis, que utilizará todos os recursos do Estado para avançar nas mudanças que nosso país precisa. Não vamos ceder, não vamos retroceder, não vamos nos render.”
Durante seu discurso, os apoiadores puxaram mais de uma vez gritos de “filho da puta”, mesmo que a maioria não soubesse a quem a multidão se referia. Também gritaram “todos presos”. Mais cedo, um homem sem camisa passou xingando “surdos”, o equivalente a “esquerdistas” em português.
A reportagem presenciou ainda um grupo xingando ao passar por cartazes de Sergio Massa, peronista que perdeu as eleições para Milei, enquanto caminhava até a Casa Rosada para seguir acompanhando as cerimônias. “Filho da puta”, repetiam, gritando.
Pela manhã, Cristina Kirchner roubou os holofotes ao mostrar o dedo do meio, sem nem olhar para trás, após ouvir insultos de eleitores ao entrar no Senado.
Após o gesto polêmico, ela abriu a sessão da Casa que deu posse a Milei e protagonizou um momento descontraído ao lado do rival, pedindo para ver qual símbolo ele havia mandado gravar no bastão presidencial —uma pata de cachorro, em homenagem aos cinco cães de sua vida, um já morto e seus quatro clones.