O governo da ilha de Taiwan afirmou nesta sexta-feira (8) ter identificado 12 caças chineses e um possível balão de alta altitude de Pequim cruzando a região de seu estreito, o que eleva a tensão na região apenas um mês antes das eleições presidenciais na ilha.
Na prática independente, Taiwan é considerada pelo regime chinês uma província rebelde que, mais cedo ou mais tarde, deve ser anexada, e tem eleições para a Presidência e o Parlamento em 13 de janeiro. As relações com a China são um dos temas-chave da campanha.
No mais recente comunicado que divulgou, o Ministério da Defesa da ilha descreveu que 12 caças cruzaram a chamada linha mediana, que em tese servia como uma barreira não oficial entre os dois lados, mas que agora os aviões de Pequim sobrevoam com frequência.
Em um adendo incomum, acrescentou que, por volta do meio-dia de quinta (7) no horário local, também detectou um balão chinês a 187 quilômetros a sudoeste da cidade taiwanesa de Keelung. O artefato teria viajado para leste por 1 hora, cruzado o estreito e desaparecido.
O caso chama a atenção, entre outras coisas, por trazer à memória a crise diplomática aberta pelos balões de alta altitude chineses que sobrevoaram o território dos Estados Unidos e chegaram a ser abatidos pelos americanos no início deste ano. Washington acusou Pequim de espionagem, enquanto o regime disse apenas que se tratavam de aparelhos de pesquisa meteorológica que desviaram seu curso.
O ministro da Defesa taiwanês, Chiu Kuo-cheng, afirmou a repórteres do lado de fora do Parlamento que sua interpretação inicial era de que, muito provavelmente, o artefato era um balão meteorológico, mas que, mesmo assim, o governo sentiu obrigação de tornar o fato público.
“Do contrário, se outros países relatassem isso, todos se perguntariam porque Taiwan não publicizou a informação. O Ministério da Defesa quer que todas as nossas unidades tenham entendimento completo do desenrolar da situação com o inimigo [em referência à China].”
Já o Ministério da Defesa chinês, questionado pela agência de notícias Reuters, não se manifestou.
Taiwan está em alerta máximo para novas atividades chinesas, tanto militares quanto políticas, antes de suas eleições, especialmente o que Taipé vê como esforços de Pequim para interferir na votação para que os eleitores votem em candidatos que a China prefira.
O atual vice-presidente, Lai Ching-te, e sua candidata a vice, a política Hsiao Bi-khim, nome muito próximo dos Estados Unidos, ambos do governista Partido Progressista Democrático, lideram as pesquisas. A China os descreve como separatistas e rejeitou as ofertas de diálogo.
O chanceler de Taiwan, Joseph Wu, afirmou nesta sexta-feira que o Escritório de Assuntos de Taiwan, órgão da China responsável por temas sobre a ilha, estava conduzindo uma “descarada interferência” no processo eleitoral local. O órgão chamou Lai e Hsiao de “dupla de independência”.
“Eles estão fazendo comentários em linguagem muito negativa sobre o vice-presidente Lai e a candidata a vice Bi-khim Hsiao. Esses tipos de declarações demonstram que eles querem interferir nas eleições de Taiwan e querem moldar os resultados”, disse Wu.
“Eles estão fazendo todo tipo de coisa para interferir em nossa eleição e podemos esperar mais até a data da votação.”
O Escritório de Assuntos de Taiwan da China não respondeu a um pedido de comentário sobre as acusações. Anteriormente, o órgão havia dito apenas que respeita os “sistemas sociais” de Taiwan. No entanto, enquadrou a eleição como uma “votação entre guerra e paz” e instou o povo de Taiwan a “considerar cuidadosamente suas escolhas”.