Ao convidar Portugal e Angola para participarem como observadores no G20, o Brasil claramente se posiciona como líder inequívoco do mundo lusófono. Este gesto simboliza mais do que uma mera cortesia diplomática; é uma demonstração de liderança e influência dentro da comunidade de países de língua portuguesa. Mas os convites restantes mostram sobretudo um Brasil inteligente e global.
Em primeiro lugar, a lusofonia. Convidar Portugal e Angola, países costeiros e atlânticos, mostra inequivocamente que os laços históricos e culturais que o Brasil compartilha com essas nações não são apenas passado romântico; representam uma visão estratégica de um futuro onde, um oceano e três continentes, falam em português ao mais alto nível da geopolítica mundial.
Mas esta é uma escolha que ultrapassa em muito os limites do simbolismo. Ao incluir Portugal (e também a Espanha), o Brasil fortalece sua ponte com a União Europeia, colocando em saia justa o presidente francês, Emmanuel Macron, que exerce uma influência negativa à efetivação do acordo do Mercosul. A presença dos países ibéricos, que somados, em área e população, equivalem mais ou menos às da França, é uma forma de equilibrar as negociações e realinhar interesses.
Depois, a inclusão de Angola não é só uma questão de língua. Os angolanos são uma potência crescente na África, e a escolha reafirma a influência do Brasil no continente africano, um mercado emergente de imenso potencial. Esta ação não apenas reforça a política externa brasileira na África, mas também alinha o Brasil com as nações africanas em desenvolvimento, que são, muitas vezes, marginalizadas nas discussões econômicas globais.
Os outros convites, cirurgicamente endereçados a Egito, Emirados Árabes Unidos, Nigéria, Noruega e Singapura, refletem uma abordagem madura e abrangente, mostrando uma interpretação sagaz do atual momento do mundo e uma intenção de diversificar alianças e de se posicionar como um mediador flexível e aberto a novas perspectivas. Mostram uma visão brasileira do mundo.
No cerne destas escolhas, está o reconhecimento de que os desafios globais contemporâneos exigem uma colaboração transnacional inclusiva. Seja na esfera da economia, do meio ambiente ou mesmo da saúde pública, o Brasil demonstra maturidade e uma compreensão de que soluções efetivas exigem uma mesa diversificada, com vozes de todas as partes do mundo.
Na verdade os convites para o G20 são uma cartada diplomática de mestre. Com essas escolhas o Brasil não só reforça seus laços históricos e fomenta novas parcerias como se posiciona decisivamente como um ator global perspicaz e engajado, consciente dos múltiplos equilíbrios de poder no xadrez mundial.
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