O Exército brasileiro decidiu antecipar o envio de 16 blindados para Boa Vista (RR) diante das ameaças do ditador venezuelano Nicolás Maduro de invadir a Guiana para anexar Essequibo, território cuja costa é rica em petróleo.
Os blindados modelo Guaicuru costumam ser usados para transporte de militares e têm capacidade para cinco pessoas. O envio de 30 veículos do tipo estavam previstos para ocorrer em 2024, mas a cúpula da Força avaliou ser prudente antecipar a primeira leva diante do possível conflito.
Os Guaicurus devem sair na quarta-feira (6) de Cascavel (PR), e o tempo de viagem esperado é de entre 20 e 30 dias. A incerteza se dá porque, após a chegada dos veículos a Porto Velho (RO) por meio de caminhões-cegonha, os militares precisam avaliar as condições climáticas para decidir se os caminhões seguirão o trajeto pela BR 319 ou se os tanques serão deslocados em balsas.
Os demais 14 blindados devem ser enviados a Roraima no próximo ano em razão de restrições orçamentárias, segundo militares ouvidos pela Folha.
O envio dos veículos de guerra tem relação com o fato de o Exército ter transformado um Esquadrão em Boa Vista em Regimento de Cavalaria Mecanizado. Na prática, a mudança aumenta o efetivo de militares (cerca de 200 para 400) e meios para combate (armamento, munição e blindados).
O aumento da presença militar era estudada pelo Exército havia dez anos, mas somente em setembro o Comando do Exército publicou portaria para criar o 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado em Boa Vista.
A Folha teve acesso a documento interno do Exército que define as diretrizes para a transformação do esquadrão em regimento. A previsão, segundo o documento, era realizar uma série de medidas até ativar a nova Organização Militar em janeiro de 2026.
A ativação, porém, ocorreu na última quarta-feira (29) —antecipação de mais de dois anos que permitiu a instalação de fato do novo regimento.
A FAB (Força Aérea Brasileira) tem ajudado o Exército com o envio de armamento, munição e equipamentos diversos para Boa Vista. Nesta semana, uma quarta leva de itens do tipo deve chegar a Roraima para equipar o novo regimento e deixar os militares prontos para um eventual conflito.
Em nota, o Ministério da Defesa afirmou que a “movimentação de blindados do Exército [deve] completar a dotação de material do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado, localizado em Boa Vista (RR), recém-criado.”
“Essa movimentação já estava planejada e consta do Plano Estratégico do Exército”, concluiu.
A avaliação majoritária na cúpula do Exército é que a invasão das forças militares venezuelanas na Guiana é improvável, já que, por via terrestre, ela demandaria uma incursão do regime de Maduro ao Brasil.
A via terrestre, no caso de uma ocupação venezuelana em larga escala, passaria obrigatoriamente pelo território brasileiro, em especial por três cidades de Roraima estratégicas para a vigilância militar de áreas de fronteira: Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, e Bonfim e Normandia, na região da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na fronteira com a Guiana.
A fronteira de Venezuela e Guiana tem poucos moradores e é marcada por área de floresta densa, o que torna quase impossível um deslocamento de tropas numerosas de um país a outro, na visão do Exército brasileiro. Por isso, uma ação teria de ocorrer pelo território brasileiro.
O entendimento hoje no Exército é de que a atitude de Maduro em relação a uma anexação de parte da Guiana –a região de Essequibo, equivalente a quase 70% do território guianês– se trata de uma bravata política de olho nas eleições presidenciais de 2024.
Integrantes do Exército dizem que a invasão de um país amigo seria um erro impensável por parte de Maduro, levando em conta as boas relações de Brasil e Venezuela após a eleição do presidente Lula (PT).
No último domingo (3), um plebiscito organizado pelo regime de Nicolás Maduro concluiu que 96% dos eleitores que participaram apoiam a ideia de anexar parte do território da vizinha Guiana, segundo divulgou o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
A votação, que contrariou recomendação da Corte Internacional de Justiça, foi a forma que a ditadura encontrou para dar um verniz de apoio popular à reivindicação de Caracas sobre Essequibo.