Militares de Israel intensificaram os ataques à Faixa de Gaza neste domingo (3), em especial na porção sul do território palestino, em Khan Yunis e Rafah —esta na fronteira com o Egito—, um dia após apontarem áreas que dizem ser seguras para civis se abrigarem.
Durante a tarde, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa, Herzi Halevi, confirmou que a ação terrestre, outrora concentrada no norte, está agora também no sul da região. “Comandantes do Hamas vão se deparar com nossas forças por todo o lado.”
A facção terrorista afirmou que seus membros entraram em confronto com tropas de Israel a apenas 2 km de Khan Yunis, e moradores relataram temer que uma nova ofensiva por terra de Tel Aviv ocorra naquela região, onde se refugiaram muitos palestinos do norte da faixa.
O Exército israelense havia ordenado que palestinos esvaziassem várias áreas no entorno de Khan Yunis. Agora, militares publicam mapas que dividem Gaza em quadrantes, onde marcam os que serão bombardeados e os nos quais a população, em tese, deve se abrigar.
Mas moradores, em informações que não puderam ser confirmadas de forma independente, disseram à agência Reuters que mesmo as áreas para as quais foram orientados a ir estavam sendo atacadas e que se reduzem rapidamente as regiões ao sul onde não há bombardeios.
Tropas de Israel também voltaram a realizar ataques aéreos contra o campo de refugiados de Jabalia, este no norte de Gaza. Autoridades locais ligadas ao Hamas, que controla a política de Gaza, disseram que vários foram mortos ou ficaram feridos, mas não especificaram as cifras.
Até aqui, o Ministério da Saúde de Gaza afirma que mais de 15,5 mil pessoas foram mortas na faixa palestina desde o início da guerra, em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e cometeu um massacre contra civis nos chamados kibutzim.
Imagens obtidas pela Reuters mostram um menino com o corpo coberto de poeira das explosões sentado em meio a destroços do campo de Jabalia e lamentando por seu pai. “Ele foi martirizado”, disse ele, que chorava, usando um termo comum entre os palestinos da região, que chamam seus mortos de mártires.
Em entrevista à rede ABC, o ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, afirmou que Tel Aviv busca exercer “pressão militar para forçar o Hamas a fazer um acordo que leve à libertação de mais reféns”. “E essa pressão continuará nos próximos dias e semanas.”
Na véspera, no entanto, o Hamas já havia dito que não planeja liberar mais reféns israelenses a não ser que a guerra chegue ao fim ou que Israel aceite um novo cessar-fogo que venha acompanhado da soltura de todos os palestinos hoje detidos em prisões de Israel.
Natural da Cidade de Gaza, o município mais populoso da faixa de terra homônima, Maher, 37, pai de três filhos, disse à Reuters que se mudou para Al-Karara, no sul, fugindo dos ataques no norte. Mas entre este sábado e este domingo, ele também teve de fugir do abrigo em Khan Yunis e do abrigo em Rafah ao lado da família devido aos ataques.
“Antes, costumávamos nos perguntar se morreríamos ou não nesta guerra, mas nos últimos dois dias desde sexta-feira, tememos que seja apenas uma questão de tempo”, disse Maher por telefone à Reuters.
Funcionários da ONU e moradores disseram que era difícil obedecer às ordens de esvaziamento dos lugares dadas por Israel devido ao acesso irregular à internet e à falta regular de fornecimento de eletricidade. Cerca de 1,8 milhão de pessoas, ou 80% da população de Gaza, fugiram de suas casas desde 7 de outubro, segundo as Nações Unidas.
Mais de 400 mil pessoas deslocadas buscaram abrigo em Rafah e quase 300 mil se abrigaram em Khan Yunis, de acordo com o escritório humanitário da ONU.
Em outra frente do atual conflito no Oriente Médio, também neste domingo rebeldes aliados do Irã no Iêmen, os houthis, reivindicaram a autoria de ataques aéreos que atingiram dois navios no mar Vermelho.
Os houthis chamaram as embarcações de “israelenses”, ainda que por ora não haja confirmação pública de qualquer ligação dos navios com Tel Aviv, e disseram que o ataque foi feito após as embarcações terem “rejeitado os avisos da marinha do grupo”.
No mês passado, um navio de carga ligado a Tel Aviv foi apreendido por rebeldes houthis, etnia xiita apoiada pelo Irã —assim como o Hamas e o Hezbollah libanês.