Em meio à negociação para a volta da Rússia ao acordo que permitia a exportação da produção ucraniana de grãos por um corredor no mar Negro, o segundo navio a deixar portos controlados por Kiev desde o fim do arranjo no mês passado passou sem incidentes pelo bloqueio das forças de Vladimir Putin na região.
A embarcação deixou Odessa no domingo (27) rumo à África, carregada com produtos de metalurgia, mas não grãos. Na semana retrasada, um navio com alimentos havia saído do porto, o maior do país invadido em 2022, para a Turquia.
O Kremlin minimizou o caso nesta segunda (28), dizendo não ter nada a ver com as discussões sobre o acordo de grãos. “A perspectiva para a renovação depende em o Ocidente cumprir sua promessa acerca dos produtos e fertilizantes da Rússia”, afirmou o porta-voz Dmitri Peskov.
A posição tem sido reafirmada por Putin, que considera insatisfeitas as contrapartidas para Moscou no arranjo mediado pela ONU e pelos turcos em julho de 2022, que foi vital para desarmar a bomba-relógio da inflação de alimentos que a guerra trouxe ao mundo.
Após o russo deixar o acerto, em 17 de julho, produtos como trigo e milho voltaram a subir, embora compensados por boas safras pelo mundo. Ainda assim, o Fundo Monetário Internacional prevê que, sem a volta dos grãos ucranianos, haja majoração de até 20% nos preços do setor.
A relativa calma no mar Negro, que voltou a ser um centro ativo da Guerra da Ucrânia a partir da saída da Rússia do acerto, também é vista na inatividade da frota de drones aquáticos de Kiev. O governo de Volodimir Zelenski havia declarado a região dos portos russos no mar Negro como “área de risco de guerra” e pedido para navios civis que transportam o vital petróleo de Moscou na região deixar a área.
Nada aconteceu desde o início do ultimato, no dia 23 passado. Kiev demonstrou que pode causar disrupção ao atacar um navio de guerra e um petroleiro russos, que foram danificados, logo depois de Putin começar a bombardear seus portos na esteira do fim do acordo.
Mas a certa inatividade, que claro pode acabar a qualquer momento, sugere avanço nas conversas de lado a lado. Isso ficou ainda mais claro ao longo da segunda, quando o partido do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, confirmou que o líder irá encontrar-se com Putin.
Em vez de uma viagem do russo a Ancara, capital de um membro da rival Otan (aliança militar ocidental), será o turco que visitará Putin no seu balnerário preferido, Sochi, no mar Negro —por sinal, um dos portos ameaçados por Kiev.
Na Ucrânia, os combates prosseguem. Kiev confirmou, pela terceira vez em uma semana, que tomou o vilarejo de Robotine, na região de Zaporíjia. A repetição da informação sugere a necessidade de divulgar boas notícias em meio à sua lenta contraofensiva, já vista como um potencial fracasso por aliados no Ocidente —salvo algum avanço decisivo, claro.
Os bombardeios russos também seguem, com uma fábrica de óleos vegetais e uma refinaria atingidas por mísseis à noite. Em todo o país, ao menos quatro pessoas morreram nesta segunda em decorrência de ataques. Já na Rússia, a ofensiva de drones ucranianos continua, com um aparelho derrubado perto de Moscou e outro, na região de Belgorodo (sul).