O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, anunciou nesta quarta-feira (29) que manterá no cargo o atual embaixador do país no Brasil, Daniel Scioli, que chegou a lançar pré-candidatura para disputar a Presidência pela coalizão governista derrotada pelo ultraliberal.
“A ideia é que continue, por enquanto, nessa tarefa”, afirmou Milei em entrevista. A confirmação da medida, especulada a alguns dias, é um aceno ao governo brasileiro, que manifestou preocupação com a possível eleição de Milei por ocasião das eleições argentinas em meio a discursos críticos ao governo Lula do então candidato.
Scioli foi indicado ao cargo em Brasília pelo atual líder do país, Alberto Fernández, que é próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que trocava provocações com Fernández. O diplomata foi vice-presidente argentino durante o governo de Néstor Kirchner e governador da província de Buenos Aires.
O embaixador havia lançado sua pré-candidatura no início deste ano para concorrer nas primárias argentinas pela vaga na disputa presidencial representando o governo de Fernández —peronista e fortemente criticado por Milei mesmo antes da campanha. Scioli retirou sua pré-candidatura para apoiar Sergio Massa, derrotado no pleito pelo ultraliberal.
Milei anunciou viagens a Estados e Israel após a vitória nas eleições, preterindo o vizinho, mas enviou a chanceler escolhida para seu governo, Diana Mondino, a Brasília para se reunir com o ministro da Relações Exteriores, Mauro Vieira, em sua primeira viagem ao exterior. No encontro, avaliada por diplomatas como sinal de busca por diálogo, ela entregou carta com convite a Lula para sua posse, no dia 10 de dezembro.
A visita de Mondino, que foi mantida em segredo, é avaliada por diplomatas brasileiros e argentinos como a coroação de esforços tanto do embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, como de Scioli.
Bitelli já vinha mantendo contato com interlocutores de Milei desde a campanha, apesar de ataques feitos por ele contra o presidente brasileiro. A ideia do arranjo com a futura chanceler, por parte da diplomacia brasileira, era não perder tempo e criar condições para que a relação com o novo governo argentino fosse iniciada nos melhores termos possíveis.
Já Scioli, segundo assessores que o acompanham, teria feito um trabalho de convencimento fundamental para que Mondino visitasse o Brasil em um espaço de tempo tão curto —apenas uma semana depois da vitória de Milei. O fato de a viagem ter sido mantida em segredo foi considerado importante para o seu sucesso.