O Partido Republicano da Alternativa a Donald Trump tem um novo candidato: Nikki Haley, mulher, filha de imigrantes indianos e relativamente moderada.
Desde o início dos debates eleitorais, a boa performance da ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas vem atraindo a atenção da imprensa e, sobretudo, de doadores. Nesta terça (28), ela ganhou o endosso dos poderosos irmãos Koch.
Em um comunicado, o braço político dos bilionários, a rede Americanos pela Prosperidade (AFP, na sigla em inglês) afirmou que “não é possível “continuar a olhar políticos do passado para consertar problemas do presente”. Para a entidade, Haley representa “uma nova geração de lideranças e oferece uma visão ousada e positiva para nosso futuro”.
A AFP costuma gastar milhões em apoio a políticos e causas conservadoras, mas até agora não havia se envolvido em uma primária republicana. O apoio, inédito, significa para Haley acesso a recursos essenciais para bancar sua campanha a pouco menos de dois meses do início das primárias –processo por meio do qual cada partido escolhe seu candidato para a eleição geral por meio de votações estaduais.
Além de dinheiro, o endosso da instituição significa ainda um exército de militantes de base espalhados pelo país e acesso a cadastros de milhões de eleitores, ativo estratégico especialmente para uma candidata pouco conhecida em comparação com seus principais rivais.
Na próxima semana, ela deve ter uma reunião com o bilionário Ken Langone, cofundador do gigante varejista Home Depot, de acordo com o New York Times. O empresário já disse estar disposto a investir na candidata.
A AFP, por sua vez, não divulgou cifras, mas afirmou que uma campanha publicitária pró-Haley deve ser lançada ainda nesta semana nos estados que organizam as primeiras primárias e nos que fazem parte da Super Terça, dia em que ocorrem muitas votações simultâneas e que costuma selar quem será o vencedor do processo.
Haley, claro, agradeceu peloo apoio, dizendo que a entidade sabe que “há coisas demais em jogo” para ficar de fora da corrida. Já assessores de Ron DeSantis, que no início do ano se desenhava como a principal alternativa a Trump, ficaram “apopléticos” com o endosso, segundo a NBC.
“Cada dólar gasto na candidatura de Haley deve ser descrito como uma contribuição em espécie para a campanha de Trump”, disse em nota Andrew Romeo, porta-voz de DeSantis.
O governador da Flórida contou com o apoio da AFP em sua disputa vitoriosa pela reeleição no ano passado e era inicialmente visto como a principal aposta do Partido Republicano de uma alternativa ao ex-presidente. No entanto, a dificuldade de subir nas pesquisas até agora, mesmo com a melhor estrutura de campanha, levou analistas a carimbarem em DeSantis o rótulo de fracasso.
Em contraste, o desempenho meteórico de Haley nas pesquisas de intenção de voto tem animado a ala do partido refratária a Trump. Entre o início de agosto e o final de novembro, a pré-candidata foi de 3,7% a 15,3% entre eleitores das primárias de Iowa e de 4,5% a 18,9% em New Hampshire, os estados que abrem o processo, o que a coloca praticamente empatada ou mesmo na frente do governador da Flórida.
No mesmo período, DeSantis foi de 15,4% a 17,5% em Iowa e de 12,8% a 7,7% em New Hampshire, de acordo com dados do agregador de pesquisas do portal FiveThirtyEight. Ambos, no entanto, seguem muito atrás de Trump, que pontua 44,7% em ambos os estados nas pesquisas mais recentes.
Ainda assim, o endosso incomodou a equipe do ex-presidente. “Americanos pela Prosperidade –o braço político do movimento China Primeiro, América em último– escolheu endossar a candidata pró-China, fronteiras abertas e globalista Nikki ‘cérebro de passarinho’ Haley”, afirmou o porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung.
Antes mesmo de endossar Haley, a AFP já vinha bancando propagandas contra a nomeação do ex-presidente como candidato republicano. Durante seu mandato, o empresário teve diversos atritos com os irmãos Koch em temas como comércio e imigração.
No domingo, em uma demonstração de força, Trump apareceu em um jogo de futebol americano entre as principais universidades da Carolina do Sul, estado natal de Haley e da qual ela já foi governadora.
Apesar dos embates, ela é vista como uma potencial vice-presidente na chapa do empresário, caso ele se confirme como o nome do partido. Quem apoia essa escolha argumenta que Haley, por ser mulher e não branca, é o complemento ideal de Trump.
Enquanto não desiste, a estratégia da pré-candidata até o momento é de projetar uma imagem ao mesmo tempo conservadora o suficiente para atrair simpatizantes do ex-presidente, mas também moderada o bastante para ser palatável a quem o detesta.
Os dois principais exemplos desse equilíbrio difícil são suas posições sobre aborto e clima. Haley se define como “pró-vida”, mas, diante da rejeição do eleitorado –mesmo o republicano– a posições extremas no tema, ela tem defendido o que chama de meio termo: a definição de um limite de tempo no qual a interrupção da gravidez é permitida, como 15 semanas.
Nos debates realizados até agora com os outros pré-candidatos, ela também chama a atenção por ser uma das poucas que afirma que concorda que existe uma crise climática. Ao mesmo tempo, ela critica como “radical” estabelecer metas para combater o problema e as políticas adotadas pelo presidente Joe Biden até agora.
Outro traço diferencial de Haley é, paradoxalmente, suas posições tipicamente republicanas –cada vez menos típicas, conforme o partido se move à direita. Austeridade fiscal e uma política externa ativa na defesa de interesses americanos e de aliados são suas principais bandeiras.
E, em uma corrida crescentemente sobre idade, a ex-governadora tem o diferencial de ser jovem em comparação a Trump e Biden: 51 anos. Haley é casada com um militar, atualmente em missão no exterior, com quem tem dois filhos.