Os sinais de apaziguamento enviados pelo presidente eleito da Argentina, Javier Milei, após o fim do processo eleitoral animaram empresários e gestores envolvidos com comércio exterior, que temiam impacto nos negócios com o Brasil.
Com o libertário eleito, seus ataques aos governos brasileiro e chinês, os dois maiores parceiros comerciais do país, e ao Mercosul devem ficar no passado, disseram empresários e especialistas reunidos em São Paulo nesta terça-feira (28).
“As perspectivas são boas”, disse Roberto Luis Troster, economista e sócio da consultoria Troster e Associados, após fazer ressalvas de que as propostas de substituir a moeda argentina pelo dólar e fechar o Banco Central “não fazem sentido”.
“Acho que ele tem uma equipe muito boa, tem um programa de governo, que é o da [candidata de centro-direita derrotada] Patricia Bullrich, que parece que vai implementar, e ele tem jogo de cintura. Ele falou mal do Lula não porque gostasse ou não do Lula, mas porque tudo que estivesse associado ao governo, ele bateu. Mas uma das primeiras coisas, ele mandou a futura chanceler aqui e falou ‘olha, era brincadeira’”, disse no 7º Seminário Internacional de Líderes Argentina, Brasil e América Latina.
A futura chanceler da Argentina, Diana Mondino, visitou em Brasília o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no último fim de semana e entregou uma carta de Milei ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que convida o petista para a posse e fala em “trabalho frutífero” e “construção de laços”.
Para Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira de São Paulo, as indicações de que Milei deve manter no cargo o embaixador no Brasil, Daniel Scioli, vice-presidente de 2003 a 2007 no governo Néstor Kirchner e nomeado para Brasília por Alberto Fernández, são “um sinal de estabilidade política incrível para os argentinos”.
“O que preocupa os empresários é ver que esse pragmatismo será uma agenda de médio e longo prazo”, afirmou. “O que preocupa é iniciar um caminho de estabilização macroeconômica que permita aos privados fazer seus negócios como de costume em um prazo um pouco mais longo, um pouco mais estável”.
Presidente da General Motors América do Sul, Santiago Chamorro afirmou confia que “os governos dos países consigam doravante criar as políticas para continuar fortalecendo o intercâmbio comercial, continuar fortalecendo o cumprimento de todas as regras e de todos os parâmetros estabelecidos no Mercosul”.
A defesa do bloco comercial foi uma constante para os empresários. Durante a campanha, Milei chegou a defender que o Mercosul —bloco do qual fazem parte Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai— acabe.
Daniel Funes de Rioja, presidente da União Industrial Argentina (UIA), afirmou que “o caminho futuro não é enfraquecer o Mercosul, mas sim fortalecê-lo”.
“Agora, não é qualquer Mercosul, não é o Mercosul que ficou apenas na sua institucionalidade política sem complementá-la com os necessários processos de desburocratização interna, adequação e harmonização normativa e uma visão muito mais atualizada de para onde devemos ir neste mundo tão dinâmico. E como este mundo tão dinâmico requer respostas rápidas, acredito que uma das questões mais importantes que devemos levar em consideração é se queremos ou não queremos o Mercosul. Nossa resposta, como industriais da Argentina, é sim, nos parece imprescindível.”
Diego Guelar, que ocupou o cargo de embaixador argentino no Brasil, China e União Europeia, relembrou os ataques que Milei fez a “alguns chefes de Estado em geral por seu relacionamento com a esquerda”, mas disse esperar “que isso vai ser modificado”.
“Nós temos uma relação muito importante, hoje dois parceiros estratégicos principais são primeiro o Brasil, sem dúvida, e o segundo a China. Mas além disso, há outros governos ligados à esquerda, muito importantes para os povos da Argentina, com uma ligação central”, afirmou, citando também o Chile, país fronteiriço governado pelo esquerdista Gabriel Boric.