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Podcast explica por que irmã de ditador da Coreia do Norte é ‘mulher mais perigosa do mundo’ – 27/11/2023 – Mundo

Kim Yo-jong é bonita, tem 36 anos e vive na Coreia do Norte. O pai e o avô dela foram ditadores daquele pequeno país comunista. E seu irmão, Kim Jong-un, herdou essa mesma ditadura.

Por nepotismo —e não tanto por vocação—, a “primeira-irmã” já foi parar na linha da sucessão norte-coreana. Mas não como uma figura simpática ou neutra. Ela seria, ao contrário, “a mulher mais perigosa do mundo”, segundo o título de uma biografia dela publicada em outubro último nos Estados Unidos.

O autor é Sung-yoon Lee, professor de direito e diplomacia na Universidade Tufts e pesquisador em Harvard. Ele também discorre sobre a aspirante a ditadora em podcast de uma terceira universidade americana, a Johns Hopkins.

No programa de áudio, Lee explica a razão por trás do título de seu livro. Kim Yo-jong é formalmente a vice-diretora do Departamento de Propaganda do partido marxista de seu país, e foi com essas credenciais que usou termos excepcionalmente agressivos contra a vizinha capitalista, a Coreia do Sul.

Disse que se os sul-coreanos dessem um único tiro na direção de seu país, receberiam como resposta um ataque nuclear que erradicaria o país do mapa. A Coreia do Norte tem a bomba atômica, e Kim Yo-jong faz uso retórico dela como forma grosseira de aterrorizar os vizinhos do sul.

É claro que ela pode estar blefando. Mas ela toma a bomba como bem mais que um instrumento político de dissuasão. Por prazer de assustar. É por isso “a mulher mais perigosa do mundo”.

O professor de Tufts e Harvard qualifica o regime norte-coreano como “medieval” em seus padrões de obediência e punição. O pai e o avô da primeira-irmã exerceram seu poder torturando e matando adversários internos. Kim Yo-jong segue os mesmos padrões.

Por mais que se desconheça se ela cometeu infrações graves no campo dos direitos humanos, a herdeira impôs uma linguagem mais agressiva e grosseira ao tratar, no Departamento de Propaganda, os inimigos externos do regime. Usou abertamente de racismo e de homofobia.

Exemplo do primeiro foi quando qualificou o então presidente americano Barack Obama de “macaco” e afirmou que ele deveria voltar para a África. Do segundo, ao atacar um jurista australiano que elaborou cuidadoso relatório sobre as aberrações dos direitos humanos na Coreia do Norte. O cidadão seria “um verme que há 40 anos se entrega a atividades homossexuais”.

A primeira-irmã tem em seu departamento uma equipe hábil de redatores. Mas o tom de cerca de 40 comunicados agressivos mudou sensivelmente a partir de 2014, quando ela assumiu o cargo de vice-diretora do órgão, tendo, na prática, mais poder que o diretor.

Foi naquela data que Kim Yo-jong saiu do anonimato. Até então, suas aparições não eram exatamente notáveis —em dezembro de 2011, por exemplo, ela foi a única mulher que segurou numa das alças do caixão de seu pai, mas ninguém sabia quem ela era. Aliás, ainda hoje a mídia oficial de seu país não informa que ela é a irmã de Kim Jong-un.

Diplomatas estrangeiros notam um clima muito amistoso entre os dois irmãos. A proximidade entre eles dataria da infância, quando ambos, sob falsa identidade, frequentaram uma escola pública em Berna, na Suíça. Diz o podcast que, naquela época, o então ditador, Kim Jong 2º, teria afirmado que escolheria a filha caçula como sucessora caso ela não fosse uma mulher.

Em poucas ocasiões ela eclipsou o irmão em cerimônias públicas, como na cúpula com os Estados Unidos em Hanói, em 2019. Ela falava inglês correntemente, enquanto Kim Jong-un ria das anedotas com atraso, dependendo de seu tradutor pessoal.

Lee, o biógrafo da primeira-irmã, reconhece seu papel primordial na ditadura, mas diz que ninguém a aponta como sucessora com integral certeza. O atual ditador tem seus próprios filhos, a mais velha com em torno de dez anos. Kim Yo-jong só assumiria o lugar do primogênito em caso de morte ou impedimento, ainda que dentro de dez ou 15 anos tudo possa mudar.

Fato é que a primeira-irmã não depende mais de intrigas mesquinhas da corte norte-coreana para garantir sua fatia de poder. Em 2001, por exemplo, a mãe dela, que trabalhava para que Kim Jong-un fosse o sucessor, colocou outro meio-irmão num pequeno escândalo internacional no aeroporto de Tóquio. Denunciou à polícia japonesa que o suposto príncipe herdeiro e a concubina do então ditador, mãe dele, eram portadores de documentos falsos. Foram todos presos para averiguação, sob o olho gordo da mídia. Foi o fim inglório da carreira política do rapaz.

Um dos indícios da importância institucional da primeira-irmã está no sigilo que cerca sua vida pessoal. Nenhum documento confirmaria que ela é casada com um alto funcionário local e que teve um filho há alguns anos. Será que ela estava grávida em fevereiro de 2018, quando chefiou a delegação de seu país nas Olimpíadas de Inverno de Seul? Ninguém sabe ao certo.

Fonte: Folha de São Paulo

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