Depois de semanas de negociação para juntar as duas forças, os principais candidatos de oposição em Taiwan, Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT) ou Partido Nacionalista da China, e Ko Wen-je, do Partido do Povo de Taiwan (TPP), registraram chapas separadas nesta sexta (24).
Com isso, crescem as chances de vitória do atual vice-presidente taiwanês, Lai Ching-te, candidato do Partido Democrático Progressista, que lidera as pesquisas. O que mais diferencia governo e oposição é a postura em relação à China, com KMT e TPP mais próximos de Pequim.
Era o último dia de inscrição para as eleições presidenciais e legislativas, marcadas para 13 de janeiro, em turno único. Um terceiro opositor, o independente Terry Gou, fundador da gigante de tecnologia Foxconn, desistiu também nesta sexta, após semanas de campanha em quarto lugar.
Os três haviam se reunido na noite anterior para mais uma tentativa de acordo, mas o encontro acabou ampliando o ressentimento entre eles, com acusações de desrespeito lançadas por representantes tanto do KMT como do TPP, resultando afinal na inscrição das chapas separadas.
As passagens de maior constrangimento na quinta-feira foram a espera de 23 minutos de Hou por Ko, diante do público, inclusive câmeras de vídeo; e depois a leitura por Hou de uma mensagem que havia recebido de Ko, dizendo que o encontro seria para Gou ter uma desculpa para desistir.
Hou registrou como seu vice Jaw Shaw-kong, apresentador de televisão e CEO da rede taiwanesa Corporação de Radiodifusão da China. Ko escolheu Cynthia Wu, que é parlamentar de seu partido e membro da família controladora do grupo financeiro e industrial taiwanês Shin Kong.
Os dois oposicionistas, na inscrição, foram críticos ao governo. Repisando o mote de que Lai traz risco de guerra, Hou falou em garantir “estabilidade ao estreito [que separa a ilha da China] e segurança para Taiwan”. Ko questionou Lai por “se distanciar do povo e dos valores progressistas”.
Nos últimos meses, Lai vem buscando se distanciar da afirmação que fez em 2017, de ser um “trabalhador pragmático pela independência de Taiwan”. Agora, diz que “independência hoje se refere ao consenso em Taiwan de que não faz parte da República Popular da China, já é um país independente chamado República da China”, nome oficial da ilha.
Hou tem privilegiado temas locais e abordado pouco as relações com Pequim. Diz que reativaria os contatos e há dois meses, em artigo na revista Foreign Affairs, reafirmou que apoia o Consenso de 1992 entre Pequim e Taipé, sobre a existência de “uma China”, o que é rejeitado pelo atual governo.
Ko também fala em retomar contatos e até negociar um acordo comercial, mas tem cobrado que Pequim esclareça sua visão sobre “uma China”, se econômica ou também política. “Eu vou dizer a Pequim que nós partilhamos a mesma história, língua, religião e cultura, mas politicamente, neste momento, não há nada que possamos fazer”, diz.